O Globo
O resultado do primeiro turno em São Paulo
significa, antes de mais nada, uma vitória expressiva da direita na maior
cidade do Brasil. E aponta para um favoritismo de Ricardo Nunes quase
impossível de ser derrubado em três semanas. Somados, Nunes
(29,5%), Pablo Marçal (28,1%) e Marina Helena (1,4%) alcançaram 59% dos
votos válidos. Nesta conta deve-se acrescentar parte dos votos de
eleitores antipetistas recebidos por Tabata Amaral (9,9%) e Datena (1,8%).
Guilherme Boulos salvou de um vexame histórico a pele da esquerda em geral, de Lula e dele próprio por meros 55 mil votos, que é a diferença obtida sobre Pablo Marçal. Já Lula safou-se de uma derrota que doeria mais do que qualquer outra nesta eleição — embora o revés, tudo indica, tenha sido apenas adiado até o fim do mês. Lula bancou Boulos como candidato. Cumpriu uma promessa feita ao próprio psolista mesmo enfrentando o nariz torcido de boa parte do PT paulista. Em compensação, precavido, esforçou-se quase nada por seu candidato neste primeiro turno. Parte do seu entorno garante que agora o presidente deverá entrar de cabeça na campanha. Pode ser. É cedo, contudo, para cravar.
Das duas, uma. Ou Lula associa seu nome
de modo umbilical à uma eventual derrota. Ou será acusado de não se envolver
como deveria para que o fracasso respingue menos nele. Boulos, portanto,
parte para o segundo turno como o azarão do páreo. Mas será cobrado se no dia
27 conseguir menos do que os 40% que alcançou na eleição à prefeitura de São
Paulo em 2020. Pelo simples fato de que as condições agora são, em tese,
mais favoráveis, muito mais do que em 2020. Por pelo menos dois motivos: ele
tem o apoio de um presidente da República e fez a campanha mais cara do
país (cerca de R$ 40 milhões).
Provavelmente, Pablo Marçal não dará apoio
formal a Nunes neste segundo turno. A essa altura isso pouco importa para o
sobrevivente prefeito que tenta a reeleição. O eleitorado de Marçal, em
boa medida composto pela ala mais radical de eleitores que votaram em Jair
Bolsonaro em 2022, é sobretudo antipetista. Não importa o que Marçal diga ou
peça. O apelo do antipetismo que passa a ser representado unicamente por Nunes
falará mais alto. A transferência de votos será inevitável. Queira Marçal ou
não queira.
São Paulo por muito pouco não validou o
vale-tudo eleitoral representado pelo ex-coach sem limites. A marcha da
insensatez protagonizada por Marçal do primeiro ao último momento da
campanha, porém, pode ter vindo para ficar.
Pela importância da cidade, a eleição foi
acompanhada Brasil afora com atenção inédita. Influenciadores
e oportunistas em geral podem ter podem ter se animado com o sucesso de
Marçal. Sim, sucesso. Não foi ao segundo turno, mas lançou-se como personagem
nacional a partir da cidade mais importante do Brasil.
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