João Sabóia
DEU NO VALOR ECONÔMICO
É fundamental acompanhar de perto a geração de renda e a evolução do mercado de trabalho
O mercado de trabalho brasileiro apresentou nos últimos anos um comportamento que poderia ser considerado como excepcional: a geração de empregos com carteira de trabalho assinada no quinquênio 2004/08 atingiu mais de 7 milhões. Apesar das dificuldades do quarto trimestre do ano passado, 2008 ficou dentro do padrão médio observado no período. Ao se compararem os últimos cinco anos com o ocorrido em 2000/03, verifica-se que a média anual de geração de empregos com carteira assinada mais que dobrou, passando de 663 mil para 1415 mil anuais (ver gráfico).
Infelizmente, os bons números ficaram para trás e é preciso enfrentar a nova situação surgida em 2009, quando a economia brasileira dificilmente apresentará taxa de crescimento positiva do PIB e o mercado de trabalho sofrerá as consequências inevitáveis da recessão econômica.
Os primeiros números de 2009 já divulgados causam preocupação. Após quedas do desemprego ano após ano desde 2004, a situação no início de 2009 aponta para as dificuldades a serem enfrentadas. Em fevereiro, a taxa de desemprego levantada pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE voltou ao mesmo patamar de fevereiro de 2008 (8,5% e 8,7%, respectivamente). Talvez o mais preocupante seja o fato de que na Região Metropolitana de São Paulo, a principal do país, a taxa de desemprego de fevereiro último (10%) já superava com folga o valor de fevereiro de 2008 (9,3%).
E quais seriam as perspectivas para o resto do ano? Certamente, bastante preocupantes. Conforme pode ser verificado no segundo gráfico, devido a características sazonais da economia e do mercado de trabalho, a taxa de desemprego costuma crescer ao longo do primeiro semestre, voltando a cair no segundo. O crescimento da taxa mensal pode se encerrar mais rapidamente, como em 2004, 2005, 2007 e 2008, ou mais adiante no ano, como em 2003 e 2006.
Tendo em vista as dificuldades da economia neste ano, o mais provável é que já em março a taxa de desemprego tenha superado o valor do mesmo mês em 2008 e que continue a crescer e se distanciar pelo menos até meados do ano. A dimensão do aumento vai depender, de um lado, de como a economia se comportará nos próximos meses e, de outro, de como as pessoas reagirão às dificuldades encontradas no mercado de trabalho. Usualmente, quando as condições de emprego pioram, há uma tendência de que parcela da população economicamente ativa (PEA) se retire, reduzindo a pressão sobre o mercado de trabalho. Caso contrário, a taxa de desemprego poderá crescer muito. A tendência verificada desde novembro de 2008 tem sido de redução da PEA.
Dados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) divulgados recentemente pelo IBGE são bastante desanimadores, mostrando que em pouquíssimos meses o setor foi para o fundo do poço. Apesar do esforço feito pelo governo para minimizar os estragos, a indústria deverá levar muito tempo para retomar o nível de 2008. Atualmente, encontra-se em um nível de produção de cinco anos atrás. Seus reflexos sobre o nível de emprego são conhecidos e têm sido amplamente divulgados pela mídia.
Um segundo aspecto central a ser destacado no mercado de trabalho é a evolução do nível de rendimentos. Apesar das dificuldades dos últimos meses, o nível médio de rendimentos captado pela PME no último mês de fevereiro ainda encontrava-se 4,6% acima do observado no mesmo mês do ano passado. A média encontrada foi de R$ 1.321, enquanto a mediana não passou de R$ 748. Cabe notar que o recente ajuste do salário mínimo nacional para R$ 465 deverá proteger parcialmente os rendimentos na base da pirâmide nos próximos meses.
Para verificar os efeitos realimentadores do mercado de trabalho sobre a economia, a variável mais importante da PME a ser observada no momento é a massa de rendimentos, que informa a capacidade de consumo da população. A massa de rendimento real efetivo em janeiro de 2009 (último dado disponível) ainda encontrava-se 6,3% acima do nível de janeiro de 2008. Nos próximos meses, entretanto, os ganhos deverão definhar, quando comparados com os bons resultados de 2008.
Apesar da abertura da economia brasileira nas duas últimas décadas, ela continua relativamente fechada, dependendo em grande parte do mercado interno. Na medida em que o setor externo da economia está parcialmente bloqueado pela crise internacional, não resta ao país outra alternativa a não ser contar com o potencial de seu mercado interno, que certamente representa uma das principais vantagens nesses tempos de incertezas. A realização deste potencial, entretanto, requer que o nível de renda interna permaneça satisfatório, sendo fundamental um acompanhamento de perto do processo de geração de renda e da evolução do mercado de trabalho nos próximos meses.
João Saboia é diretor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
DEU NO VALOR ECONÔMICO
É fundamental acompanhar de perto a geração de renda e a evolução do mercado de trabalho
O mercado de trabalho brasileiro apresentou nos últimos anos um comportamento que poderia ser considerado como excepcional: a geração de empregos com carteira de trabalho assinada no quinquênio 2004/08 atingiu mais de 7 milhões. Apesar das dificuldades do quarto trimestre do ano passado, 2008 ficou dentro do padrão médio observado no período. Ao se compararem os últimos cinco anos com o ocorrido em 2000/03, verifica-se que a média anual de geração de empregos com carteira assinada mais que dobrou, passando de 663 mil para 1415 mil anuais (ver gráfico).
Infelizmente, os bons números ficaram para trás e é preciso enfrentar a nova situação surgida em 2009, quando a economia brasileira dificilmente apresentará taxa de crescimento positiva do PIB e o mercado de trabalho sofrerá as consequências inevitáveis da recessão econômica.
Os primeiros números de 2009 já divulgados causam preocupação. Após quedas do desemprego ano após ano desde 2004, a situação no início de 2009 aponta para as dificuldades a serem enfrentadas. Em fevereiro, a taxa de desemprego levantada pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE voltou ao mesmo patamar de fevereiro de 2008 (8,5% e 8,7%, respectivamente). Talvez o mais preocupante seja o fato de que na Região Metropolitana de São Paulo, a principal do país, a taxa de desemprego de fevereiro último (10%) já superava com folga o valor de fevereiro de 2008 (9,3%).
E quais seriam as perspectivas para o resto do ano? Certamente, bastante preocupantes. Conforme pode ser verificado no segundo gráfico, devido a características sazonais da economia e do mercado de trabalho, a taxa de desemprego costuma crescer ao longo do primeiro semestre, voltando a cair no segundo. O crescimento da taxa mensal pode se encerrar mais rapidamente, como em 2004, 2005, 2007 e 2008, ou mais adiante no ano, como em 2003 e 2006.
Tendo em vista as dificuldades da economia neste ano, o mais provável é que já em março a taxa de desemprego tenha superado o valor do mesmo mês em 2008 e que continue a crescer e se distanciar pelo menos até meados do ano. A dimensão do aumento vai depender, de um lado, de como a economia se comportará nos próximos meses e, de outro, de como as pessoas reagirão às dificuldades encontradas no mercado de trabalho. Usualmente, quando as condições de emprego pioram, há uma tendência de que parcela da população economicamente ativa (PEA) se retire, reduzindo a pressão sobre o mercado de trabalho. Caso contrário, a taxa de desemprego poderá crescer muito. A tendência verificada desde novembro de 2008 tem sido de redução da PEA.
Dados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) divulgados recentemente pelo IBGE são bastante desanimadores, mostrando que em pouquíssimos meses o setor foi para o fundo do poço. Apesar do esforço feito pelo governo para minimizar os estragos, a indústria deverá levar muito tempo para retomar o nível de 2008. Atualmente, encontra-se em um nível de produção de cinco anos atrás. Seus reflexos sobre o nível de emprego são conhecidos e têm sido amplamente divulgados pela mídia.
Um segundo aspecto central a ser destacado no mercado de trabalho é a evolução do nível de rendimentos. Apesar das dificuldades dos últimos meses, o nível médio de rendimentos captado pela PME no último mês de fevereiro ainda encontrava-se 4,6% acima do observado no mesmo mês do ano passado. A média encontrada foi de R$ 1.321, enquanto a mediana não passou de R$ 748. Cabe notar que o recente ajuste do salário mínimo nacional para R$ 465 deverá proteger parcialmente os rendimentos na base da pirâmide nos próximos meses.
Para verificar os efeitos realimentadores do mercado de trabalho sobre a economia, a variável mais importante da PME a ser observada no momento é a massa de rendimentos, que informa a capacidade de consumo da população. A massa de rendimento real efetivo em janeiro de 2009 (último dado disponível) ainda encontrava-se 6,3% acima do nível de janeiro de 2008. Nos próximos meses, entretanto, os ganhos deverão definhar, quando comparados com os bons resultados de 2008.
Apesar da abertura da economia brasileira nas duas últimas décadas, ela continua relativamente fechada, dependendo em grande parte do mercado interno. Na medida em que o setor externo da economia está parcialmente bloqueado pela crise internacional, não resta ao país outra alternativa a não ser contar com o potencial de seu mercado interno, que certamente representa uma das principais vantagens nesses tempos de incertezas. A realização deste potencial, entretanto, requer que o nível de renda interna permaneça satisfatório, sendo fundamental um acompanhamento de perto do processo de geração de renda e da evolução do mercado de trabalho nos próximos meses.
João Saboia é diretor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
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