Cristiane Agostine e Mauro Zanatta , de Brasília
DEU NO VALOR ECONÔMICO
DEU NO VALOR ECONÔMICO
Sob a ameaça de ser perder o mandato conquistado pelo partido que ajudou a fundar nos anos 80, a senadora acreana Marina Silva prepara o "desembarque" do PT para disputar o Palácio do Planalto pelo Partido Verde em 2010. Aliados históricos e colaboradores próximos já têm certeza de que a ex-ministra do Meio Ambiente anunciará sua adesão aos "verdes" até o fim deste mês. O "empurrão" final pode ser o resultado de uma pesquisa nacional a ser realizada pelo Datafolha nos próximos dias.
Influente no PT, o ex-ministro José Dirceu detectou o potencial da senadora e acusou o golpe. Em seu blog na internet ele afirmou ontem que Marina foi eleita por "uma luta conjunta", "pelo PT do Acre, e não só pelo povo daquele Estado como ela diz". E mandou seu recado de forma bastante explícita: "Seu mandato pertence ao povo do Acre e também ao PT e à militância petista, que sempre esteve ao seu lado e a apoiou no Brasil inteiro". José Dirceu celebrou a "imposição da fidelidade partidária" como "conquista" do PT e de seus filiados.
Como previsto pelo PV, Dirceu reflete o ânimo de parte do PT contra uma candidatura que pode tirar votos preciosos da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Magoada com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a senadora resiste aos apelos petistas para permanecer no partido.
Atento aos movimentos petistas, dirigentes do PV informam que o roteiro para Marina já está preparado e será operado em etapas. A senadora entrará no partido, ficará um tempo fora de cena e anunciará sua candidatura no início de 2010. "O PV entende que ela já aceitou. Estamos pensando na campanha com uma comissão mista, dela e nossa. Estamos tratando de coisas realistas do tipo como será a campanha. E não será monotemática", afirmou um líder do PV. "Mas o bom senso diz que não dá para demorar muito mais para decidir". Mesmo assim, o PV cuida para "não ditar regras" a Marina. Nem agora nem depois. "Ela vai comandar a candidatura. O vice passa por ela. É melhor que ela venha com o nome. Só tem que ter um perfil que acrescente no campo das ideias", diz o dirigente.
Cobiçado pelo novo potencial eleitoral, o partido já começou o movimento de "refundação" para "alargar a candidatura" de Marina. Nesse novo programa, caberiam temas da "nova economia", inclusive mudanças climáticas, e assuntos tradicionais como educação, ciência e tecnologia, segurança pública e saúde. "Mas precisamos ter propostas modernas, à altura da contemporaneidade da candidatura", disse o dirigente. O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) já ofereceu auxílio à Marina em temas educacionais.
A cúpula do partido informa que Marina já consultou "todo mundo" de sua intimidade para decidir. "E recebeu apoio integral dos companheiros do Acre, que era o que mais doía nela".
Pré-candidato ao governo do Rio, o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) compartilha dessas ideias. "Nosso programa, feito antes da convenção do clima, tem que prever como conduzir não só o Brasil, mas orientar a posição do país no mundo, compreendendo uma nova sociedade de baixo carbono", disse, à saída de um almoço de duas horas no apartamento da senadora. "Marina pode ser porta-voz desse processo pela experiência internacional e executiva", argumenta. Gabeira também defende não ser possível uma candidatura "monotemática, só de meio ambiente". Estariam surgindo, segundo ele, "ofertas de auxílio em várias áreas, como a segurança pública" para ajudar a colocar de pé a candidatura de Marina. "Já transcende ao PV promover essa mudança", avalia o deputado.
Mais próximo ao PSDB do que ao PT, Gabeira rejeita a candidatura de Marina como linha auxiliar do governador tucano José Serra (SP). Admite até mesmo abrir mão de disputar o Palácio Laranjeiras em favor da campanha da senadora. "Se for necessário, eu não serei candidato. Sei que é uma engenharia delicada ter dois palanques no Rio. [Serra e Marina]. Mas é possível, porque já foi feito inclusive no Acre", raciocina. Cotado para eventual candidatura ao Senado, Gabeira também avalia ser útil ao projeto nacional do partido. "Hoje, ela não me atrapalha nem eu a atrapalho", afirma.
A resistência do PT à mudança de Marina para o PV encontra algumas brechas. O comentário de Dirceu foi recebido com estranhamento por lideranças do PT e amigos da senadora no momento em que parlamentares, governadores e militantes petistas têm demonstrado apoio e apelado pela permanência de Marina. O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), conversou ontem pela manhã com Marina e disse que o partido só se manifestará sobre o mandato da senadora quando ela decidir seu futuro. "Não dei nenhum prazo para ela, nem ela me disse nada sobre quando tomará a decisão. Marina falará só quando se sentir confortável", afirmou Berzoini. "Não há motivo para discutir sobre o mandato dela agora e qualquer decisão será coletiva". O presidente do PT disse não concordar com a eventual mudança de partido de Marina, mas afirmou à senadora que respeita sua decisão.
Mesmo assim, o ex-ministro Dirceu insistiu ontem em "alertar" a senadora em seu blog. "Marina foi eleita quando a realidade demonstrou que ela, Jorge Viana e o PT lutavam a favor daquele Estado e de seu povo", lembrou. E seguiu em sua cruzada: "Marina foi eleita pela luta de dezenas de anos da esquerda, de Chico Mendes; pelo apoio que recebeu de Jorge e Tião Viana e da militância do PT, já que a resistência dos madeireiros, e daqueles que queriam avançar sobre a floresta e contra seus povos, criou uma rejeição à sua candidatura, mesmo entre o eleitorado popular."
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