DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Em carta a evangélicos, Dilma Rousseff (PT) se comprometeu a não apresentar projeto para descriminalizar o aborto, mas não a vetar a medida caso o Congresso a aprove. Considerada ambígua por igrejas, a carta desagradou a entidades do movimento gay por não rechaçar a homofobia.
Em carta, Dilma não promete veto a aborto
Mensagem não atende exigência, feita por evangélicos, de barrar qualquer projeto para descriminalizar prática
Texto foi considerado ambíguo por igrejas e desagradou entidades do movimento gay por não rechaçar homofobia
Márcio Falcão
Em carta a evangélicos, Dilma Rousseff (PT) se comprometeu a não apresentar projeto para descriminalizar o aborto, mas não a vetar a medida caso o Congresso a aprove. Considerada ambígua por igrejas, a carta desagradou a entidades do movimento gay por não rechaçar a homofobia.
Em carta, Dilma não promete veto a aborto
Mensagem não atende exigência, feita por evangélicos, de barrar qualquer projeto para descriminalizar prática
Texto foi considerado ambíguo por igrejas e desagradou entidades do movimento gay por não rechaçar homofobia
Márcio Falcão
DE BRASÍLIA - Em mensagem divulgada ontem para "acalmar" evangélicos, a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, se compromete a não apresentar projeto para descriminalizar o aborto, mas não a vetar a medida caso seja aprovada pelo Congresso.
Em reunião com a coordenação da campanha do PT, na última quarta-feira, 51 representantes de igrejas evangélicas exigiram de Dilma o compromisso de vetar qualquer projeto aprovado no Congresso "contra a vida e valores da família".
O texto traz seis pontos nos quais a candidata reafirma declarações já feitas ao longo da campanha.
Diz, por exemplo, que é "pessoalmente contra o aborto" e que vai defender a "manutenção da legislação atual sobre o assunto", que só permite a prática em casos de estupro e risco de morte para a gestante.
Ambígua em vários pontos, a mensagem não produziu o efeito desejado.
Em vídeo na internet, o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, por exemplo, diz que "quem é religioso não precisa fazer força para mostrar".
"Nós não somos trouxas (...) Mudar agora por questões eleitoreiras é vergonhoso", diz o pastor.
Antes de ser candidata, Dilma defendeu, em pelo menos duas ocasiões, a descriminalização do aborto.
Coordenador evangélico da campanha dilmista, o bispo da Assembleia de Deus e deputado Manoel Ferreira (PR-RJ) reconheceu que Dilma não se compromete com o veto na mensagem, mas minimizou a questão.
Walter Pinheiro (PT), evangélico e senador eleito pela Bahia, saiu em defesa da candidata petista à Presidência. "Quer compromisso maior do que defender a manutenção da legislação? O veto está subentendido aí."
Outra cobrança dos evangélicos era o veto ao projeto que criminaliza condutas homofóbicas (PLC 122).
Na mensagem, porém, Dilma diz apenas que, se a proposta for aprovada, o "texto será sancionado nos artigos que não violem liberdade de crença, culto e expressão".
O temor dos evangélicos é que o projeto impeça sermões e pregações referentes aos homossexuais.
Dilma não cita diretamente outros tabus para os religiosos, como casamento homossexual e adoção por pessoas do mesmo sexo.
Movimentos gay, por sua vez, criticaram as campanhas de Dilma e José Serra (PSDB) pela forma como têm discutido a temática.
A Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais, que reúne 237 entidades, criticou em carta a "instrumentalização de sentimentos religiosos e concepções moralistas" na campanha.
A associação cobra coerência dos dois candidatos e sugere que a discussão, como tem sida conduzida, dá espaço à homofobia.
A mensagem de Dilma também é dúbia ao tratar do PNDH-3 (Plano Nacional dos Direitos Humanos), bombardeado pelos setores evangélicos. A petista diz que o programa é uma "ampla carta de intenções", que "está sendo revisto" e não pretende promover nenhuma iniciativa que "afronte a família".
Colaborou Uirá Machado , de São Paulo
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