Rainha lidera onda de invasões do MST no Estado
Desde a madrugada de sábado, 36 fazendas já foram tomadas no oeste paulista; ação faz parte do ""abril vermelho"" e líder promete outras até dia 17
José Maria Tomazela
SOROCABA - Subiu para 36 o número de fazendas invadidas pelo Movimento dos Sem-Terra (MST) nas regiões do Pontal do Paranapanema, Alta Paulista e Araçatuba, no oeste do Estado, desde a madrugada de sábado. Pelo menos seis áreas foram invadidas na manhã de ontem. As ações fazem parte do "abril vermelho", a jornada de lutas do movimento.
Os militantes, liderados pelo dissidente José Rainha Júnior, reivindicam a retomada da reforma agrária na região, com a criação de assentamentos para seis mil famílias que estão em acampamentos. Querem, ainda, que o governo estadual apresse a obtenção da posse de uma área de 92,6 mil hectares considerada devoluta pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), no Pontal.
As terras de duas usinas de açúcar e álcool do grupo Odebrecht instaladas em parte dessa área, converteram-se no principal alvo do movimento. Seis fazendas do grupo - Copacabana, Galpão de Zinco, Timburi, Lago Azul, São José e Pontal Agropecuária - foram invadidas em Teodoro Sampaio. De acordo com Rainha, para instalar uma das usinas, o grupo investiu em terras que o governo estadual considera como devolutas. "Parte do investimento foi financiada pelo governo federal, através do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social)." Rainha divulgou uma relação das áreas invadidas em 19 municípios dessas regiões. Em Dracena, foram ocupadas as fazendas Turmalina, Santo Antonio, Vista Alegre e Cobras.
Rainha afirma que as ocupações vão continuar até o dia 17, data em que 19 sem-terra foram mortos pela Polícia Militar, em 1996, em Eldorado dos Carajás, no sul do Pará. O "massacre de Eldorado dos Carajás" foi adotado como símbolo da luta pela terra no País. Representantes do grupo de Rainha vão se reunir com integrantes da Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp) no dia 14 para discutir a questão agrária na região. Em janeiro, os sem-terra liderados por Rainha Júnior já haviam invadido 23 propriedades na região, na ação que ele denominou "janeiro quente".
Deboche. O presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antonio Nabhan Garcia, disse ontem que as invasões são um "deboche" à lei. Segundo ele, Rainha Júnior é um dos poucos brasileiros que possuem "alvará de impunidade". "Ele já foi condenado, tem dezenas de processos, anuncia previamente seus crimes e não vai preso." Para Nabhan, o julgamento das terras devolutas do Pontal não é definitivo. "Há recursos pendentes que podem modificar a decisão do STJ." Ele atribui ao governo estadual a responsabilidade pelo conflito no Pontal. "É o Estado que está dizendo que somos grileiros. O proprietário rural que produz há 100 anos corre o risco de ter de entregar a terra para esses invasores."
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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