Após entrevista de ministro falando em dólar a R$ 1,85, Banco Central é obrigado a agir para evitar que dólar caia ainda mais e faz uma intervenção de meio bilhão no mercado.
Um dia após divulgação de que a inflação de janeiro tinha sido a maior em dez anos e o presidente do BC, Alexandre Tombini, ter dito que a situação "não era confortável" o ministro Guido Mantega afirmou ontem que não havia motivo para alarme e que o governo não permitiria o dólar a R$ 1,85. O mercado entendeu que Mantega se referia a um "piso" para a moeda, e logo o dólar recuou 1%, para R$ 1,952, a menor cotação em nove meses. O BC interveio vendendo contratos no valor de US$ 502 milhões. A moeda fechou a R$ 1,972, estável.
Carnaval no câmbio
Declaração de Mantega confunde mercado, faz moeda cair a R$ 1,95 e obriga BC a intervir
João Sorima Neto
SÃO PAULO - Às vésperas do carnaval, o que era para ser um dia tranquilo no mercado de câmbio transformou-se num pregão agitado e confuso para operadores. Um dia depois da divulgação de que a inflação de janeiro tinha sido a maior em dez anos e o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, ter declarado que a situação "não era confortável", o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem à agência Reuters que não havia motivo para alarme, acrescentando que o governo não permitirá que o dólar caia a R$ 1,85. Com isso, a moeda americana iniciou os negócios em forte queda frente ao real, cotada a R$ 1,955, e o mercado testou níveis mais baixos para o dólar, que se desvalorizou ao menor patamar em nove meses.
Para frear esse movimento, o BC interveio no câmbio fazendo leilão de swap cambial reverso, operação que equivale à compra de dólares no mercado futuro. No fim do dia, o dólar comercial encerrou estável, negociado a R$ 1,970 na compra e R$ 1,972 na venda, a mesma cotação do fechamento de quinta.
Logo após a abertura do mercado, a cotação da moeda despencou 1%, para R$ 1,952, a mínima do dia. Por volta de 11h, o Banco Central anunciou o leilão de swap reverso, o primeiro leilão deste tipo desde o dia 25 de outubro, quando o BC atuou para evitar que a moeda se aproximasse de R$ 2,00. Na prática, com o leilão, o BC antecipou o vencimento de quase US$ 2 bilhões em contratos de swap cambial tradicional, que venceriam no dia 1º de março. Dos 37 mil contratos ofertados, o BC só conseguiu vender dez mil, um giro financeiro US$ 502 milhões. Com mais demanda por dólar no mercado futuro, a tendência é a moeda americana se valorizar também no mercado à vista.
- Ao citar a cotação de R$ 1,85 na entrevista, Mantega sinalizou que havia espaço para a divisa cair até este patamar, para reduzir pressões inflacionárias. O mercado reagiu e testou um nível mais baixo para a moeda - disse João Medeiros, sócio da corretora Pionner.
Mas o BC surpreendeu ao realizar o leilão de compra de moeda e mudar as expectativas. Após a operação, das 11h às 11h30m, a divisa americana passou a subir. Por volta das 12h, o dólar se valorizava 0,15%, negociado a R$ 1,969. Às 14h30m, valorizou-se 0,30%, a R$ 1,980, atingindo a máxima do dia.
- O leilão do BC fez o mercado voltar a ter a mesma dúvida que tinha desde o início do ano: qual é o novo piso para o dólar? Pelo que o leilão indicou, a faixa de flutuação desejada para o dólar pelo BC é de R$ 1,96 a R$ 2,00. Essa confusão, também mostrou que aparentemente não há sintonia entre as palavras do ministro Guido Mantega e as ações do BC e que o que o ministro Mantega fala não se pode escrever - afirmou Reginaldo Galhardo, gerente de Câmbio da corretora Treviso.
O ministro afirmou à "Reuters" que, se houver tendências especulativas no câmbio, o governo intervirá de novo.
"O ideal é que não houvesse intervenção, mas isso é sonho. Agora, se houver de novo uma tendência especulativa, se o pessoal se animar, "vamos puxar esse câmbio para R$ 1,85", aí estaremos de novo intervindo", disse o ministro.
Ministro não descarta alta do IOF
Entre as medidas que o governo poderia tomar, Mantega citou a elevação do IOF nas operações de ingresso de moeda estrangeira no país e a compra de dólares no mercado.
Na avaliação de operadores de câmbio, a intervenção no BC teve principalmente o objetivo de frear o movimento brusco de queda do dólar.
- O BC atuou principalmente para evitar a volta da volatilidade no câmbio. Nos últimos dias, a moeda tinha oscilado pouco, entre R$ 1,98 e R$ 1,99. Não se esperava tanto tumulto às vésperas do carnaval, quando o investidor não se arrisca em posições mais elevadas - disse o operador de uma corretora que prefere não se identificar.
Para o sócio da corretora Pionner, João Medeiros, perdeu um pouco de força a tese de que o BC usará a política cambial como forma de brecar a pressão inflacionária. No mercado, já se aposta em alta de até 1,5 ponto percentual da Selic, a taxa básica de juro, este ano. Atualmente, ela está em 7,25%.
- Agora, na minha avaliação, o dólar está tabelado em R$ 2. O mercado está confuso - afirmou ele.
Fonte: O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário