• Além de a renda crescer mais devagar, patrimônios do "andar de cima" padecem com efeitos da crise
- Folha de S. Paulo
O efeito social e político da lerdeza econômica começa a aparecer nas pesquisas de humor dos brasileiros. "Começa". Apesar da degradação desastrosa do prestígio dos governantes e do aumento brutal da ansiedade econômica, como demonstrado pelo Datafolha, o pleno impacto dos efeitos colaterais de Dilma 1 sobre o dia a dia do cidadão ainda está por aparecer, em especial no emprego, no salário e no consumo, que são os termômetros das ruas.
Mas há outros indícios menos visíveis de empobrecimento que já devem estar causando estragos: o patrimônio, os estoques de riqueza, param de crescer ou já começam a perder valor real. É o efeito pobreza.
No ano passado, ficamos "mais pobres" em um sentido mais "pop". Para ser mais preciso, a renda ou a produção média por cabeça diminuiu. Isto é, o PIB deve ter crescido quase nada, menos que a população. No entanto, a renda do trabalho ainda cresceu, embora o ritmo do avanço venha sendo cada vez menor. O desemprego diminuiu, embora a quantidade de gente ocupada nas metrópoles tenha ficado estagnada. As rendas "sociais" (transferências do governo) também.
Como tanto repetiram os economistas da Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo e esquerdistas governistas, "o país ia mal, mas o povo ia bem", embora não lidassem com o assunto nesses termos.
Neste 2015, o efeito de uma inflação mais acelerada com reajustes menores de salário, devidos ao aumento do desemprego, tende a comer os aumentos de renda. Além do mais, a inflação mais visível, aquela que afeta o consumo de bens e serviços mais cotidianos, anda ruim. A inflação de alimentos e bebidas anda a quase 9%. A de habitação, quase 11%.
Do lado de cima da pirâmide social, deve haver uma percepção de empobrecimento na acepção mais estrita da palavra. Todo o mundo soube da enorme inflação do preço dos imóveis, que levou os preços de casas e apartamentos em bairros de rico de Rio e São Paulo para níveis londrinos. Pois bem, essa inflação acabou. Nos últimos 12 meses, na média o preço dos imóveis subiu menos que o IPCA, por exemplo. Mas, nos últimos 36 meses, vinham subindo ao ritmo de 36% em grandes cidades e a 40% em São Paulo, ante um IPCA de pouco menos de 20%.
O patrimônio líquido dos fundos de investimento aumentou ainda 4,6% no ano passado, em termos reais, mas nos menores ritmos da década, afora 2013 e os anos horríveis de 2008 (colapso mundial) e 2002, resultado de perdas de capital, rentabilidade baixa e captação (aplicações) minguantes.
Nesses fundos estão R$ 2,6 trilhões da riqueza dos brasileiros. O Ibovespa estava em cerca de 70 mil pontos no primeiro mês de Dilma 1, janeiro de 2011; anda pela casa de 49 mil pontos agora. Além de perda de patrimônio, do ponto de vista do indivíduo, trata-se ainda de um indicador de baixo interesse pelas empresas e pela expansão dos negócios.
Para lembrar num "indicador" meio precário, mas visível de poder de compra, o valor do "dólar" anda pelos níveis mais altos em meia dúzia de anos (trata-se aqui da taxa real efetiva de câmbio). Para o conjunto da economia, a médio prazo, tende a ser uma boa notícia. Para quem mede conforto em importados e viagens, é um indício de possibilidades diminuídas.
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