• Operador na BR Distribuidora recebia dinheiro vivo na sede da empresa
Cleide Carvalho, Renato Onofre e Andressa Maltaca – O Globo
CURITIBA E SÃO PAULO - O empresário Mário Goes, apontado pelo delator Pedro Barusco Filho como um dos operadores do esquema de propina na BR Distribuidora, teria pagado mais de US$ 7,5 milhões a Renato Duque, ex-diretor de Serviços da estatal, e ao próprio Barusco em nome da empresa Arxo, de Santa Catarina, acusada de fazer parte da fraude. A acusação consta do depoimento de Cintia Provesi Francisco, ex-gerente financeira da Arxo, que acusou a empresa de envolvimento no esquema. Em depoimento à Polícia Federal, Cintia afirmou que Goes recebia dinheiro vivo na sede da Arxo em Piçarras, Santa Catar ina, das mãos de Daniela Fransozi, sobrinha dos donos da empresa Gilson Pereira e João Gualberto Pereira Neto. O diretor financeiro da Arxo, Sérgio Marçaneiro, segundo ela, também viajava para o Rio levando valores em espécie para entregar a Goes. Presos desde a semana passada na 9ª etapa da Lava-Jato, os donos e o diretor financeiro da Arxo foram libertados ontem por decisão do juiz Sérgio Moro. Ainda segundo Cintia, para pagar a propina e operar dinheiro vivo, a Arxo montou um caixa 2 e um sistema de notas frias.
Ela comprava as notas frias de terceiros, pagando 5,5% para o emissor , ou usava notas de fornecedores. As duas principais fornecedoras de notas eram a RPK, que teria emitido 88 notas ficais frias entre 2013 e 2014; e a Linkcom. Documento da Receita Federal classificou as duas empresas como "noteiras", pois a movimentação financeira delas era incompatível com o total de notas que emitiam. Segundo Cintia, o representante das duas empresas era Flávio Sanchez, que era funcionário de uma empresa chamada All Prime . Sanchez teria dito a Cintia que tinha um amigo na Receita Federal, em São Paulo, que ajudava a "esquentar" notas frias . Ainda de acordo com a testemunha, Cintia contou que o contrato de R$ 85 milhões com a BR Distribuidora foi assinado pela Arxo no segundo semestre do ano passado após uma reunião de Gilson Pereira com representantes da subsidiária da Petrobras.
Advogados falam em vingança
No encontro, teria ficado acertado que, num pacote de R$ 200 milhões de caminhões-tanque a serem comprados pela BR, a Arxo ficaria com R$ 80 milhões em encomendas. Cintia trabalhou na Arxo entre janeiro de 2012 e novembro de 2014 e os advogados da empresa alegam que, depois de demitida, quis se vingar . Do outro lado , Cintia apresentou à PF várias cópias de notas frias , e afirmou que foi demitida porque não aceitou o esquema. A ex-gerente afirmou que um sobrinho dos sócios, chamado Vagner Pereira, responsável pela área de tecnologia de informação da Arxo, usava um sistema capaz de apagar arquivos remotamente. Um teste foi feito em abril de 2014, logo depois do início da Lava-Jato. (*Especial para O GLOBO)
Estatal alterou normas, diz testemunha
A Operação Lava-Jato ouviu uma testemunha que, segundo os investigadores, confirma a atuação do ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque no esquema que envolve a cobrança de propina de empreiteiras que formavam cartel para obter contratos com a Petrobras. De acordo com o jornal "O Estado de S. Paulo", o ex-gerente jurídico da estatal Fernando de Castro Sá detalhou como, por meio de alteração de normas e padrões de contratação da estatal, empreiteiras passaram a ditar regras, via Diretoria de Serviços. Sá, em depoimento à Justiça, disse que tentou comunicar os desmandos internamente: "A coisa ia num crescente tão grande que, um belo dia, olha como a coisa era feita, chegou lá da (Diretoria de) Engenharia para o (Diretoria de) Abastecimento informando que tinham que aprovar os aditivos 5, 6 e 7 da terraplanagem (nas obras da Refinaria Abreu e Lima). Só que quando você lê o expediente, os aditivos já estavam assinados.
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