Por Cristian Klein e Renata Batista – Valor Econômico
RIO - Um processo muito positivo que investiga um gigantesco escândalo de corrupção na Petrobras, mas que tem gerado efeitos paralisantes na cadeia produtiva e até no Congresso. Foi assim que o ex-presidente do Banco Central, Arminio Fraga, descreveu a Operação Lava-Jato durante seminário internacional sobre o sistema financeiro de países emergentes, realizado ontem na Fundação Getulio Vargas (FGV), no Rio.
"Acho que há muito a ser limpo na Lava-Jato. É muito, muito positivo. Mas também tem um efeito paralisante em grandes contratos no país e teve e vai ter um efeito paralisante, por um tempo, no próprio Congresso. Porque há muita gente lá que agora está provavelmente pensando mais em ficar fora da cadeia do que em qualquer outra coisa", disse.
Arminio afirmou ainda que a corrupção no Brasil não se trata mais apenas do "bom e velho padrão em que as pessoas ficam ricas, roubando". "Vai além disso, é um esquema de corrupção politicamente conectado e organizado para alimentar o poder político. É uma ameaça real para a qualidade da democracia", criticou.
Durante a apresentação, Armínio fez críticas ao governo e afirmou que a responsabilidade fiscal está "suspensa". Na conversa com os jornalistas, porém, disse que o país "não tem vocação suicida" e encontrará um caminho. Questionado se há luz no fim do túnel, respondeu: "No momento, não. Tem alguma luz, para não exagerar, mas ainda em um quadro muito difícil. Ela está longe", completou.
Antes da palestra, questionado pelo Valor sobre a possibilidade de o Banco Central elevar até o fim do ano a taxa básica de juros, a Selic, - em resposta à possível pressão inflacionária por causa da desvalorização do real - Arminio disse que o Copom acabara de mantê-la em 14,25%, na véspera. Analistas preveem que o BC poderá elevar mais a Selic até o fim do ano, mas Arminio afirmou que prefere não comentar sobre juro, especialmente no curto prazo.
O ex-presidente do BC, no entanto, defendeu que a instituição se concentre na meta de inflação para definir a taxa de juros, sem arriscar qual seria o patamar adequado ao atual cenário.
Arminio evitou comentar as especulações a respeito da saída de Joaquim Levy do Ministério da Fazenda. E disse que caberá aos políticos liderar as soluções para a atual crise econômica.
Líder da equipe econômica do senador Aécio Neves (PSDB-MG), na corrida presidencial do ano passado, Arminio criticou o inchaço dos quadros de funcionários do Estado, o aparelhamento partidário das instituições no país e o forte peso estatal no sistema financeiro brasileiro.
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