sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Presidente recua do recuo e volta a defender superavit

'Levy fica', afirma Mercadante (Casa Civil) após reunião com Dilma e Nelson Barbosa (Planejamento)

Dilma volta a falar em superavit, e governo afirma que Levy fica

• Presidente mobiliza auxiliares para acalmar mercado e reafirmar disposição de manter ministro da Fazenda

• Dias depois de entregar Orçamento com deficit, petista agora afirma que vai tentar cumprir superavit primário

Valdo Cruz, Natuza Nery, Marina Dias e Fábio Monteiro – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff montou nesta quinta-feira (3) uma operação para segurar o ministro Joaquim Levy no governo e acalmar o mercado, que abriu o dia tenso, com o dólar superando R$ 3,80 pela manhã, em reação às indicações dadas pelo chefe da Fazenda de que poderia deixar o cargo.

Com receio de aprofundar a crise política e econômica, Dilma convocou reunião de emergência com Aloizio Mercadante (Casa Civil), Nelson Barbosa (Planejamento) e Levy para unificar o discurso e pacificar o clima dentro da equipe econômica. Após o encontro, ministros ressaltaram que o titular da Fazenda continua no posto.

A presidente também orientou sua equipe a dar entrevistas garantindo que o governo negociará medidas para cumprir a meta de superavit primário de 0,7% do PIB (Produto Interno Bruto) no próximo ano, como defendia Levy, que foi contra mandar ao Congresso a proposta de Orçamento para 2016 com previsão de deficit de R$ 30,5 bilhões.

O ministro havia cobrado unidade de discurso para evitar que ganhassem força as dúvidas sobre a sobrevivência do ajuste fiscal, bandeira que o levou a assumir o cargo no fim do ano passado.

"Levy fica. A reunião foi muito boa", disse Mercadante. "Ele tem compromisso com o Brasil." Braço direito da presidente, Mercadante atribuiu os rumores de demissão de Levy a "mal-informados" e "mal-intencionados". "Tem gente especulando e tentando ganhar dinheiro com turbulência", afirmou.

Em sintonia com a orientação de Dilma, Mercadante disse também que o governo buscará cumprir sua meta de superavit no ano que vem.

O ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, fez o mesmo. "Levy fica, ele é importante para o governo, fica porque sempre esteve forte".

A mudança na estratégia do governo, que até segunda (31) fazia questão de dizer que optara por um Orçamento "realista e transparente", ocorreu após Levy indicar em conversa com a própria Dilma na quarta-feira (2) que sentia falta de apoio e poderia deixar o governo.

Confiança
No mesmo dia em que Levy reclamou diretamente com Dilma, o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, desembarcou em Brasília para acalmar o ministro e se reunir com a presidente. Antes de aceitar o convite para assumir a Fazenda, Levy trabalhava no Bradesco.

Na conversa com a presidente, o banqueiro alertou que o Orçamento deficitário e os rumores de que Levy poderia sair estavam enfraquecendo o governo e que reforçavam a disparada na cotação do dólar.

Depois do encontro com o banqueiro, Dilma deu entrevista no Palácio do Planalto e defendeu publicamente seu ministro da Fazenda. Garantiu que o auxiliar tem seu "apoio e respeito".

A partir daí, o Planalto passou a emitir mais sinais de mudança no tom do discurso sobre o deficit. Admitiu que iria buscar novas fontes de receita para atingir o superavit.

Na noite de quarta-feira, auxiliares de Dilma afirmavam que ela acreditava ter conseguido acalmar o ministro. Os dois haviam conversado novamente, desta vez em tom bem-humorado e bem mais tranquilo.

Na manhã desta quinta, porém, o mercado abriu agitado, ainda apostando na possibilidade de Levy sair do governo. Foi aí que a presidente decidiu convocar os ministros da Fazenda e do Planejamento para uma reunião, obrigando-os a remarcar horários de viagens, a fim de sinalizar que estava comprometida com o ajuste fiscal.

Tão logo chegou ao mercado a informação de que a presidente havia convocado a reunião, e que seu objetivo era fortalecer seu ministro da Fazenda, o dólar inverteu sua tendência de alta e fechou o dia com leve queda, de 0,05%, cotado a R$ 3,76. E a Bolsa de Valores intensificou sua alta, de quase 2%.

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