Por Arícia Martins, Cristiane Bonfanti e Carolina Oms – Valor Econômico
SÃO PAULO E BRASÍLIA - Protestos realizados ontem em todo o país criticaram o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e defenderam o juiz Sergio Moro e a Operação Lava-Jato. Foram registradas manifestações em todos os Estados e no Distrito Federal. Segundo estimativas da polícia, cerca de 75 mil pessoas participaram dos atos em todo o país. De acordo com os organizadores, esse número é superior a 480 mil.
Em São Paulo, epicentro do movimento que pediu o afastamento de Dilma Rousseff, 15 mil pessoas, segundo a Polícia Militar (200 mil para os organizadores), protestaram contra o "jeito corrupto de fazer política", debaixo de sol forte e calor de 29 graus. Organizado por movimentos adeptos do impeachment - como o Vem pra Rua e o Movimento Brasil Livre - o ato não chegou a uma pauta unificada, mas repudiava a interferência na Operação Lava-Jato, as mudanças feitas pela Câmara no pacote anticorrupção e o foro privilegiado, além de benefícios como supersalários. O MBL pedia, ainda, a saída de Renan Calheiros, que virou réu no Supremo Tribunal Federal (STF).
Enquanto o carro do MBL tocava o hino nacional, Kim Kataguiri, coordenador do movimento, disse ao Valor que somente o governo petista usava a corrupção como método de governo. "Ao menos, temos visto que o governo atual é mais sensível à opinião pública", disse, citando a queda de todos os ministros que praticaram irregularidades.
Alguns dos presentes, porém, foram críticos à atual administração. Enquanto aguardava o início do ato, o aposentado Wanderley Paulo Ramos, de 66 anos, era um deles. "Embora não fale isso claramente, Temer é contrário à Lava-Jato", afirmou, ponderando que parece não haver opção melhor para o país, exceto a realização de novas eleições ou uma eventual intervenção militar, medida que apoiaria. "Sou da época militar e foram anos maravilhosos. E nenhum dos presidentes ficou rico."
Já o técnico de segurança no trabalho Fabio Amaral, de 29 anos, avaliou que é preciso dar um voto de confiança ao governo Temer. "Sabíamos que em seis meses a economia não ia se recuperar". Eleitor de Dilma em 2014, Amaral disse que se sentiu enganado pelo PT, que escondeu a realidade econômica do país durante as eleições, e apoiou o impeachment porque achava importante que houvesse alternância de partidos no poder, independentemente da corrupção.
O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), potencial candidato a presidente em 2018, foi tietado pelo público, mas também enfrentou protestos. "Político, não!", alguns gritaram, enquanto ele fazia selfies. Já o deputado federal Major Olímpio, do Solidariedade, candidato derrotado à Prefeitura de São Paulo, e que estava no carro de som do movimento "Nas Ruas", foi ovacionado pelos manifestantes.
Em frente ao mesmo carro de som, um pequeno grupo chamava a atenção. Divididos em núcleos de três pessoas seguravam faixas extensas, com críticas ao presidente Michel Temer.
Segundo Hideo Kihara, de 64 anos, diretor da empresa Brudden Náutica, três ônibus vieram de Pompeia, cidade no interior paulista a 470 quilômetros de São Paulo, com funcionários da companhia, para se manifestar contra a corrupção e o governo Temer.
Kihara diz que a fabricante de bens de capital ainda está em boa situação, mas há preocupação em relação às empresas concorrentes, que estão quebrando. "Precisamos convocar uma nova eleição e colocar pessoas de bem no governo", disse o executivo, para quem a corrupção piorou na gestão atual.
"O maior corrupto é o PMDB", afirmou Kihara, que também foi favorável ao impeachment de Dilma. Para ele, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), seria um bom presidente. "A turma dele pode até ser corrupta, mas ele não", acredita.
Um dos principais alvos dos protestos de ontem, o presidente do Senado afirmou que manifestações são legítimas e devem ser respeitadas. "Assim como fez em 2013, quando votou as 40 propostas contra a corrupção em menos de 20 dias, entre elas a que agrava o crime de corrupção e o caracteriza como hediondo, o Senado continua permeável e sensível às demandas sociais", diz nota divulgada pela assessoria de Renan Calheiros.
Reunidos em frente ao Congresso Nacional, os manifestantes levaram faixas e cartazes com palavras de ordem como "Fora Renan". Renan atuou para acelerar a votação do pacote de medidas anticorrupção depois que a Câmara incluiu temas polêmicos - como o abuso de autoridade por parte de juízes e promotores.
A Câmara dos Deputados afirmou em nota que as manifestações como as que ocorreram ontem servem para "oxigenar" a democracia e "fortalecem o compromisso do Poder Legislativo com o debate democrático e transparente de ideias".
A Presidência da República avaliou que "a força e a vitalidade" da democracia brasileira foram demonstradas mais uma vez nas manifestações ocorridas em diversas cidades do país. Por meio de nota, a Presidência disse que "milhares de cidadãos expressaram suas ideias de forma pacífica e ordeira". "Esse comportamento exemplar demonstra o respeito cívico que fortalece ainda mais nossas instituições", informou a nota. "É preciso que os Poderes da República estejam sempre atentos às reivindicações da população brasileira", complementou.
O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, não quis comentar as críticas a Maia e Renan, mas destacou que o governo tem dado "amplo" apoio à Lava-Jato. O ministro da Defesa, Raul Jungmann, avaliou que as manifestações foram "expressivas e tranquilas". Ele defendeu que o governo fique fora da polêmica que envolve a mudança do projeto anticorrupção. (Com agências noticiosas)
Nenhum comentário:
Postar um comentário