• Resultado da eleição presidencial pode ajudar campanha de Merkel na Alemanha
Graça Magalhães Ruether - O Globo
-BERLIM- A vitória do político verde Alexander van der Bellen nas eleições presidenciais austríacas, realizadas ontem, freou temporariamente as ambições do populismo anti-establishment na Europa. Depois de uma mobilização nacional, Bellen derrotou Norbert Hofer, do Partido da Liberdade, de extrema-direita, contrário à União Europeia e que defendia a construção de muros nas fronteiras para evitar a entrada de refugiados no país.
— Eu lutei desde o início por uma Áustria pró-Europa e por valores como liberdade, fraternidade e tolerância — afirmou o presidente eleito, de 72 anos, que nasceu no Tirol em uma família de refugiados do Leste Europeu.
Bellen assumirá a presidência da Áustria, um cargo mais cerimonial, no fim de janeiro com a missão de superar a divisão interna causada pela longa campanha eleitoral, a mais agressiva no país desde o final da Segunda Guerra Mundial. Hofer, aceitou a derrota e afirmou em seu perfil no Facebook que está “infinitamente triste” com o resultado. Ao mesmo tempo, seus adeptos usavam as redes sociais para especular sobre o perigo de “transformação da Áustria em um Estado muçulmano”.
Mas a festa da extrema-direita europeia pode ter sido apenas adiada, como afirma a cientista política brasileira Júlia Mourão Permoser, professora da Universidade de Viena:
— A mobilização nacional contra a extrema-direita surtiu efeito. No final, muitos potenciais eleitores de Norbert Hofer tiveram medo de uma política agressiva e da imagem negativa que a escolha de um presidente da extrema-direita significaria para a Áustria. Em maio do próximo ano, entretanto, Marine Le Pen tem grandes chances de ser eleita presidente da França.
A vitória de Alexander van der Bellen marcou o fim de um drama eleitoral nunca visto pelos austríacos. Em maio último, ele venceu o segundo turno da eleição presidencial com apenas 30 mil votos de diferença. A votação, porém, foi anulada sob a suspeita de irregularidades, o que fez a TV alemã ZDF chamar a Áustria de “república de bananas”. Em outubro, a repetição do segundo turno foi adiada para dezembro, depois de ter sido constatado que a cola usada para fechar os envelopes de voto por carta, importada da Alemanha, não colava direito. Durante os nove meses de campanha eleitoral, o discurso dos dois candidatos tornou-se mais agressivo, com acusações mútuas de “mentiroso descarado” ou “nazista simpatizante de Hitler”.
Para Julia Mourão Permoser, o resultado de ontem é mais um sinal de que apenas parte dos eleitores dos partidos populistas têm mesmo uma ideologia de extrema-direita.
— Alguns votam na direita como uma forma de protesto ao ver que os partidos até então no poder — no caso da Áustria, os social-democratas (SPÖ) e o Partido do Povo (ÖVP) — têm se mostrado incapazes de resolver os problemas registrados pela população — analisa a professora.
IMPACTO NA ALEMANHA
A vitória de Alexander van der Bellen poderá ter um efeito positivo na campanha da chanceler alemã Angela Merkel, que se candidatará pela quarta vez nas eleições parlamentares de setembro do próximo ano. O presidente eleito da Áustria elogiou a política para os refugiados da chefe do governo da Alemanha. Merkel foi alvo de críticas quando decidiu abrir as fronteiras do país e tem o seu futuro político ameaçado pelo crescimento do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema-direita, que tem tomado votos da União Democrata Cristã (CDU), partido da chanceler.
— A Europa tirou um peso do seu coração. A vitória (de Van der Bellen) foi uma vitória da razão — disse Sigmar Gabriel, presidente do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD), que espera que o resultado austríaco fortaleça a mobilização contra a extremadireita também em outros países onde há a ameaça dos populistas chegarem ao poder.
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