Pesquisas apontam empate técnico entre os quatro principais candidatos, um cenário que dificulta previsões e aumenta as chances de o país deixar a União Europeia, caso se confirme a possibilidade, cada vez maior, de vitória de um líder populista, como Marine Le Pen
Andrei Netto | O Estado de S. Paulo
PARIS - A sete dias da eleição presidencial, a França prende a respiração diante do quadro eleitoral mais imprevisível dos últimos 50 anos. Pesquisas mostram que a diferença entre os quatro primeiros candidatos oscila entre 3 e 5 pontos porcentuais, com os dois líderes, o social-liberal Emmanuel Macron e a nacionalista Marine Le Pen, em queda. O cenário é de incerteza, alimentada por um eleitorado com mais de um terço de indecisos.
Na última semana, a reportagem do Estado cruzou a França, de Lille, na fronteira com a Bélgica, à periferia violenta de Marselha, no Mediterrâneo. O objetivo foi ouvir eleitores comuns sobre a escolha que os 45,7 milhões de franceses farão na semana que vem.
Em evidência, a indignação da maior parte do eleitorado com os partidos tradicionais, Republicanos, de direita, e o Socialista (PS), de esquerda, que se alternam no poder há 36 anos.
Outra constatação é a aparente irracionalidade do voto. Uma parte do eleitorado se diz pronta a votar no radical de esquerda Jean-Luc Mélenchon, do movimento França Insubmissa, no primeiro turno, e migrar para Marine Le Pen, do extremo oposto, no segundo. O raciocínio é o voto “antissistema”, que tem como primeiro alvo a classe política da França, e como segundo a União Europeia e seu maior símbolo: o euro.
Dos 11 candidatos, apenas dois, Macron e o liberal-conservador François Fillon, do partido Republicanos, defendem de forma aberta a UE. Todos os demais pregam ou a saída, o “Frexit”, ou a renegociação dos tratados que norteiam o bloco – o que deixaria ainda mais frágil a integração, após o baque causado pelo Brexit, a retirada dos britânicos.
Segundo pesquisas, Macron e Marine Le Pen dividem-se na liderança, com índice entre 22% a 24%. Atrás estão Jean-Luc Mélenchon e Fillon, alternando-se entre 19% e 20%. Na prática, trata-se de um quádruplo empate técnico que permite a qualquer um deles sonhar com o segundo turno – abrindo até mesmo a perspectiva de um duelo entre Le Pen e Mélenchon.
A corrida ao Palácio do Eliseu também tem como fator de incerteza a queda do socialista Benoit Hamon, que hoje teria entre 7,5% e 8% dos votos – o pior desempenho em décadas de um líder do PS, após cinco anos de governo de François Hollande. Ao lado do alto número de indecisos, a indefinição sobre para onde irão os seus votos é um dos maiores fatores de desestabilização do cenário eleitoral francês.
Hoje e ao longo da semana, o Estado abordará as histórias e as impressões de franceses comuns com os quais cruzou, em uma tentativa de entender por que o eleitorado tem oscilado, a sete dias da eleição, entre as propostas da extrema direita e da extrema esquerda.
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