- Folha de S. Paulo
Os delatores da Odebrecht enlouqueceram e inventaram crimes de caixa dois eleitoral, propina e desvio de dinheiro público.
O cenário é surreal e improvável, afinal eles assinaram acordo com as autoridades que os obriga a detalhar o esquema para reduzir a pena.
Mas não deixa de ser considerável levando-se em conta a presunção de inocência e o fato de que, desde que surgiram os vídeos dos depoimentos, nenhum político admitiu irregularidade. O discurso dos implicados tem sido basicamente o de negação de conduta ilícita e o de que as doações eleitorais foram todas declaradas.
Estão pagando para ver? Provavelmente sim, embora seja uma defesa arriscada e, a depender do rumo das investigações, suicida politicamente.
A estratégia só tem lógica na aposta de que faltarão documentos e outros elementos que corroborem muitos dos crimes relatados pelos executivos da empreiteira à Lava Jato.
Uma planilha com nomes e valores, em um primeiro momento, é um indício forte, mas apenas um indício. Aponta algo, mas não prova nada.
Exceções podem estar nos casos em que foram entregues comprovantes de transferências. Estão nesse rol os tucanos Aécio Neves e José Serra, a campanha de Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula e Duda Mendonça.
Grosso modo, a maioria das delações indica pagamento em espécie. Um terço dos mencionados teria recebido caixa dois, praticamente tudo por meio de dinheiro vivo.
Em alguns casos, os delatores dão os nomes de intermediários e endereços onde esse dinheiro foi repassado. Em outros, dizem não se lembrar como e onde a entrega ocorreu.
O desafio de policiais e procuradores —com a ajuda dos delatores— agora é provar que mais de uma centena de políticos recebeu dinheiro sujo.
O caminho para levá-los à punição na Justiça é longo e íngreme. Os vídeos divulgados causam espanto, vergonha e desalento ao país, mas não são suficientes para evitar que as delações virem um dia piada de salão.
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