- O Estado de S.Paulo
Alguns indicadores antecedentes já apontam para um novembro também fraco
Com base no ritmo da atividade econômica registrado até agora neste quarto trimestre, dificilmente o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2019 vai atingir o desempenho estimado atualmente pelos analistas do mercado financeiro.
Além de o resultado para 2018 como um todo decepcionar, a herança estatística da economia caminha para uma virada do ano mais fraca do que se esperava. Do ponto de vista estatístico, a economia precisa crescer mais aceleradamente em 2019 para compensar a perda de fôlego da economia nos últimos três meses deste ano.
Conforme a mais recente pesquisa Focus, do Banco Central, os analistas projetam crescimento de apenas 1,30% do PIB de 2018 – um contraste em relação ao primeiro levantamento deste ano, quando essa projeção era de uma expansão de 2,69%. Para 2019, a estimativa é de um crescimento de 2,55%, o que implicaria numa expansão trimestral ao redor de 0,7%.
Só que os indicadores de atividade para o mês de outubro mostraram que o quarto trimestre registrará uma perda de ímpeto em relação ao terceiro trimestre, quando o crescimento do PIB foi de 0,8% ante o segundo trimestre.
Em outubro, as vendas do varejo restrito, que exclui veículos e materiais de construção, caíram 0,4% e o índice no conceito ampliado recuou 0,2%. Já a indústria cresceu 0,2%. Os serviços tiveram leve alta de 0,1%. E o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) ficou praticamente estagnado, avançando apenas 0,02%.
Alguns indicadores antecedentes já apontam para um mês de novembro também fraco. As vendas de veículos novos em novembro caíram 9,3% em relação a outubro.
Com isso, muitos economistas estão projetando que o quarto trimestre irá registrar um crescimento entre 0,3% e 0,4%. Esse desempenho mais débil do quarto trimestre gera um carregamento estatístico menor para a economia em 2019.
“Não acho que seja por aí, que a economia vá desapontar ou não em 2019, pois tem mais a ver com a capacidade do governo Bolsonaro de entregar a agenda liberal para economia, aprofundando as reformas, particularmente a da Previdência”, diz o economista-chefe para América Latina do banco Goldman Sachs, Alberto Ramos. “Isso é que vai determinar o grau de aceleração da economia em 2019.”
Para ele, o que surpreendeu foi o crescimento mais elevado do PIB no terceiro trimestre, o qual foi resultado de fatores atípicos e não recorrentes, além de partir de uma base bem deprimida do segundo trimestre, afetado pela Copa do Mundo e pela greve dos caminhoneiros.
“Nunca saímos de uma trajetória de recuperação medíocre”, diz Ramos sobre os indicadores de atividade conhecidos até agora no quarto trimestre. “O terceiro trimestre foi simplesmente um ponto fora da curva e hoje estamos voltando para uma recuperação bastante gradual.”
Nos cálculos do economista sênior do Haitong Banco de Investimento do Brasil, Flávio Serrano, com base no nível registrado em outubro, o carregamento estatístico na indústria está negativo em 1,2% para o quarto trimestre, ou seja, se a indústria ficar estável em novembro e dezembro, o setor terá uma queda de 1,2% no trimestre. No caso do varejo restrito, esse carregamento é negativo em 0,6%.
“A economia herda um carregamento estatístico baixo para 2019, mas não vai ser o quarto trimestre que vai prejudicar o desempenho da economia ao longo do ano que vem”, diz Serrano. “Em 2019, há muitos outros elementos mais importantes, como a materialização ou não da desaceleração das economias centrais, em particular a dos Estados Unidos.”
Além disso, em termos da retomada dos investimentos, Serrano diz que é crucial a expectativa da aprovação da reforma da Previdência. “Não é que a gente tem que aprovar essa reforma em março para a economia crescer em 2019, mas ao longo do ano é preciso haver indícios de que está se avançando na reforma da Previdência e no ajuste das contas fiscais”, argumenta Serrano.
Ou seja, a projeção atual de crescimento da economia em 2019, de 2,55%, não tem lastro na situação atual e no ritmo da atividade desde outubro, mas no otimismo em relação ao governo Bolsonaro. Os índices de confiança de consumidores e empresários endossam esse otimismo.
Se o presidente eleito não entregar a agenda econômica que prometeu ou se o Congresso não ajudar e aprovar as reformas, a recuperação da economia pode travar.
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