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O capitão vacila
Há limites para tudo – até mesmo para quem se elegeu presidente prometendo combater a corrupção e agora teme ser alcançado pelo que defendia antes. Esse é o dilema que enfrenta Jair Bolsonaro desde que dois dos seus filhos tiveram os sigilos quebrados sob a suspeita de se beneficiaram de dinheiro público.
O ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal, saiu em socorro dos garotos – e ao fazê-lo, socorreu-se e socorreu colegas e outras autoridades dos três poderes da República investigadas pelo Ministério Público com base em informações fiscais obtidas sem prévia autorização judicial.
A bandeira do combate à corrupção decorava o gabinete de Bolsonaro no terceiro andar do Palácio do Planalto desde que ele entrara ali para ficar pelos próximos quatro anos. Sumiu. Como exibi-la sem prejudicar os garotos, sem parecer desleal com os que o ajudam a safar-se da enrascada familiar e sem ser contraditório?
Se ela ainda ocupasse um lugar de honra em sua agenda, Bolsonaro não teria enfraquecido Sérgio Moro, líder inconteste do Partido da Lava Jato. Não teria atacado a Receita Federal e o Conselho de Controle de Atividades Financeiras. Nem peitado a Polícia Federal como ainda não desistiu de fazer.
Esses são os órgãos de Estado, não de governo, mais empenhados no combate à corrupção. É da natureza deles. E sempre foram respeitados pelos presidentes que antecederam o capitão. A Procuradoria Geral da República poderá ser o próximo alvo de Bolsonaro, a depender de quem ele escolha para assumi-la.
Ou Bolsonaro não se dá conta do perigo que corre de vir a ser acusado por obstrução de Justiça ou está seguro de que conta com aliados confiáveis em tribunais superiores capazes de protegê-lo. Se uma parte dos seus devotos se convencer de que ele fraquejou no trato de assunto tão sensível, Bolsonaro pagará muito caro.
Se não agora, mais adiante quando tentar se reeleger.
Crescem as chances de Zero Três virar embaixador
O motivo: é um pedido pessoal de Bolsonaro
Reunidos, ontem à noite, para discutir o assunto, 13 senadores de vários partidos, a maioria deles contrária à proposta, concluiu que a indicação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para o cargo de embaixador do Brasil em Washington deverá ser aprovada com uma razoável folga de votos quando for submetida ao plenário.
A batalha decisiva será travada antes na Comissão de Relações Exteriores do Senado, integrada por 18 senadores. Dá-se ali como quase certo que a indicação será aprovada com uma vantagem de no mínimo dois votos. Nelsinho Trad (PSD-MS), presidente da Comissão, faz campanha aberta em favor de Eduardo.
Aos colegas, ele lembra: “O voto é secreto”. E sugere aos que se opõem abertamente à indicação que votem a favor e que depois digam que votaram contra. Dado ao cargo que ocupa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), presidente do Senado, só votaria em plenário em caso de empate. Mas afirma que é contra a indicação.
Em entrevista à rádio CBN, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que a indicação de Eduardo configura nepotismo e que lhe falta experiência para ser embaixador. As boas relações que possa ter com a família Trump também não justificariam a indicação. Mas, pondera, ela “toca muito a sensibilidade familiar”.
Com outras palavras, esse é o argumento que ganha força entre os senadores para aprovar a indicação mesmo contra sua vontade. “Não se pode negar um pedido pessoal do presidente da República”, alega um senador do MDB do Nordeste que, por ora, quando perguntado, ainda se diz indeciso.
O governo joga pesado para aprovar o nome do filho do presidente Jair Bolsonaro. Promete empregos para afilhados políticos dos senadores e a liberação de mais de R$ 2 bilhões em emendas parlamentares ao Orçamento da União para a construção de pequenas obras em seus redutos eleitorais.
Para que a sabatina de Eduardo na Comissão de Relações Exteriores venha a ser secreta, basta que ele peça, segundo Trad. É o que ele deverá fazer para driblar o risco de cometer disparates em público.
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