Uma
vez Centrão, sempre Centrão
Jair
Bolsonaro chegou à presidência da República com uma ideia fixa, por sinal a
única que lhe sopraram sem maiores detalhes e ele gostou logo de saída: quebrar
o maldito sistema.
Não
sabia bem o que era o sistema, mas de tanto ouvir falar dos seus males e da sua
força intuiu que essa poderia ser uma bandeira atraente para despertar
esperança.
Afinal,
não tinha projeto para o país porque sempre fora incapaz de conceber um ou de
sequer preocupar-se com isso. E a facada acabou salvando-o do risco de
revelar-se um candidato vazio.
Em sua primeira visita aos Estados Unidos, limitou-se a repetir vagamente que destruiria o sistema para só mais tarde construir outro. Foi ouvido pelos americanos como um líder pitoresco.
Bem
que ele tentou derrubar o sistema, se entender-se assim a fase em que provocou
uma crise atrás da outra e ameaçou o Congresso e a Justiça com manifestações de
rua antidemocráticas.
Recuou
com medo de ter o mandato cassado e os filhos presos por corrupção. Desde então
se rendeu ao sistema que pretendia demolir e se empenha em extrair o maior
proveito dele.
A
mais recente prova disso foi a demissão do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio,
um dos homens que o carregaram ensanguentado nos braços depois da facada
redentora.
Marcelo
não foi despachado porque havia sido denunciado por corrupção nas eleições de
2018. Nem porque chamou de “traíra” o general Luiz Eduardo Ramos, ministro da
Secretaria do Governo.
O
general é um pau mandado de Bolsonaro e está acostumado a ser desacatado por
colegas. Ricardo Salles, do Meio Ambiente, já o chamou de Maria Fofoca e nada
lhe aconteceu.
O
de Bolsonaro não é um governo, mas um serpentário onde quase todos se golpeiam
o tempo inteiro na tentativa desesperada de acumular mais poder e de agradar
mais ao chefe.
Salles
agradou Bolsonaro ao desqualificar o general que já teve na marca do
pênalti várias vezes. Marcelo não o agradou por ter dito que o general
negociava seu cargo com o Centrão.
Haverá
algo que se identifique mais com o sistema, alvo pretérito de Bolsonaro, do que
o Centrão? O cargo de Marcelo caberá ao Centrão na reforma ministerial prevista
para janeiro próximo.
Bolsonaro,
hoje, depende do Centrão para eleger o deputado Arthur Lira (PP-AL) presidente
da Câmara daqui a dois meses. E do Centrão depende para se reeleger em 2022.
Para
quem acenara com a recriação da política, decorrência natural do baque a ser
imposto ao sistema, o Centrão é tudo o que existe de velho, podre e corrompido
desde que surgiu em 1988.
Nada
de estranho para Bolsonaro. Ele já se filiou a cerca de 10 partidos nos seus
quase 30 anos como deputado federal. E todos eles faziam parte do Centrão que
agora se robustece.
Nem se poderá dizer que o filho pródigo retornou à casa porque Bolsonaro de fato jamais a abandonou.
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