Tentar
impedir o governo paulista de aplicar a CoronaVac leva o caso para o STF
Ampla
e cuidadosa reportagem no GLOBO — publicada ontem, de autoria de Johanns Eller,
Raphaela Ramos e Rodrigo de Souza— deu uma geral em todos os estados para saber
como estão se preparando para o programa de vacinação. O resultado é
desalentador. Exceto o governo paulista, nenhum outro tem plano pronto, muito
menos vacinas.
Estão
todos no gerúndio: preparando, estudando, negociando. Alguns informam que já compraram
insumos, como seringas e agulhas, outros dizem que já encomendaram freezers,
todos prometem alguma coisa para as próximas semanas.
Em
resumo: excetuando o governador João Doria, nenhum outro depositou esforços e
colocou dinheiro e organização para alcançar uma vacina. Os demais ficaram na
dependência do governo federal, por motivos diversos, mas basicamente dois:
estados mais pobres que não têm recursos e/ou administradores incompetentes.
Todo
mundo sabia que a saída da crise estava na vacina, de modo que a política de
saúde aplicada neste ano (distanciamento social, máscaras, quando aplicadas, e
internações) tinha o objetivo de ganhar tempo até a chegada da vacina. Esta,
portanto, deveria ser o alvo principal.
Na prática, para os governadores, tratava-se de preparar os programas de imunização — coisa que não é difícil, já que estados e municípios fazem isso todo ano — e de agir na política e na diplomacia para ter acesso a todas as vacinas que estavam sendo pesquisadas.
Mas
ficaram à espera das providências do governo federal, que passou meses negando
a importância da pandemia. Até que o governador João Doria apareceu com a
vacina e um plano de imunização. E ainda, num gesto obviamente político,
oferecendo doses para outros estados.
Foi
uma revolução. O ministro da Saúde, o general Pazuello, que colocava suas
fichas só numa vacina — a da Oxford/AstraZeneca —, disse que estava negociando
com a Pfizer, cujo medicamento havia rejeitado pouco antes, dizendo que sua
aplicação exigia uma logística quase impossível de obter por aqui.
Mas
como, se outros países da América Latina já tinham comprado a vacina da Pfizer?
Estariam tão mais adiantados que o Brasil?
Agora,
o ministro está negociando com a farmacêutica — de novo, no gerúndio. A
vacinação, que começaria lá por março, abril (os testes da AstraZeneca, por
azar, atrasaram), agora pode — notaram?, “pode” — começar talvez em dezembro.
Dezembro?
É, isso se o contrato for fechado com a Pfizer, se a Anvisa der autorização de
emergência e se a farmacêutica conseguir adiantar algumas doses, para pequena
quantidade de pessoas. Se... algumas... pequena... Ou seja, não tem nada.
Alguns
governadores e prefeitos aceitaram a oferta de negociar com o Instituto
Butantan, que tem a CoronaVac aqui no Brasil.
Outros,
como Ronaldo Caiado, de Goiás, simplesmente disseram que nenhum estado pode
começar a vacinação antes dos outros.
Então
vamos imaginar o seguinte: o Butantan, como prometido, entrega os estudos
finais à Anvisa até 15 de dezembro; obtém a liberação da “Anvisa” chinesa, o
que lhe dá o direito de solicitar autorização de emergência para a nossa
Anvisa, que tem 72 horas para responder. Se não disser nada, a vacina está
liberada. Pode negar, mas vai ser uma crise danada se a vacina tiver sido
aprovada por outros institutos.
E
o governador Doria ficará na seguinte situação: tem a vacina, tem as doses
necessárias para começar a imunização conforme plano já divulgado e faz o quê?
Deixa tudo estocado esperando que o governo federal compre as vacinas para
todos os estados e organize os planos?
Claro
que não pode fazer isso. Poderia até ser um crime de responsabilidade contra os
moradores de São Paulo, onde a pandemia está em expansão.
Tentar
impedir o governo paulista de aplicar a vacina leva o caso para o STF — para
onde, aliás, o governador do Maranhão, Flávio Dino, já levou, mas no sentido
contrário, de garantir autonomia aos estados.
Enquanto isso, o presidente Bolsonaro faz um tipo de museu com os trajes que ele e a primeira-dama usaram na posse e elimina impostos na importação de armas. Só se ele acha que vai matar o coronavirus a bala.
Nenhum comentário:
Postar um comentário