Proposta de possíveis presidenciáveis de formar grandes coalizões para a disputa com Bolsonaro esbarram no pragmatismo das negociações partidárias em nível estadual
Enquanto
presidenciáveis falam em formar alianças amplas para enfrentar o
presidente Jair Bolsonaro na eleição de 2022, líderes políticos
fazem contas pragmáticas sobre os interesses partidários regionais, que serão
determinantes no plano nacional. Agremiações assediadas do centro à esquerda
por quem busca apoio na disputa ao Palácio do Planalto têm projetos estaduais
prioritários. Os casos mais emblemáticos são o PSB,
o DEM e o PSD.
O PSB avalia lançar um “outsider” à Presidência enquanto mantém conversas com o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teve seus direitos políticos restabelecidos. A decisão final, entretanto, vai passar por um acordo em Pernambuco, hoje a principal base da legenda, que governa o Estado e a prefeitura do Recife.
O sociólogo Juliano Domingues, professor de Ciência Política da Universidade Católica de Pernambuco, prevê que o ex-prefeito do Recife Geraldo Júlio (PSB) será o candidato natural ao governo na sucessão de Paulo Câmara (PSB), seja alinhado com o PDT ou com o PT. “O fator decisivo será a variável ‘Lula elegível’”, disse o professor. “Não por acaso, surgiram notícias de uma possível reaproximação entre PSB e PT logo após a decisão de Fachin sobre os processos de Lula”, acrescentou, referindo-se ao ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin, que anulou as condenações do petista na Lava Jato e o reabilitou a disputar eleições. “Caso se confirme essa reaproximação, ela representaria uma potencial ‘traição’ ao projeto de Ciro e enfraqueceria uma liderança emergente do PT, a deputada Marília Arraes (PE), que se desfiliou do PSB justamente por discordar do comando do partido, ainda na época de Eduardo Campos.”
Atualmente,
o PSB está alinhado com o PDT em 13 Estados, segundo o presidente nacional do
PDT, Carlos Lupi. “As alianças regionais
criam o ambiente”, disse o dirigente. “Se você está junto com outro partido em
dez estados, a (direção) nacional precisa observar essa realidade. Caso
contrário, existiria, na prática, uma aliança nacional e outra regional, o que
cria dificuldade.”
Já
o presidente do PSB, Carlos Siqueira, avaliou que todo problema nacional tem um
pé no local. “É natural que as coisas se influenciem, mas o PSB vai apoiar
aquele que se apresentar como a pessoa mais capaz de agregar forças políticas
para vencer Bolsonaro e fazer um governo de união nacional. Não descartamos
apoiar ninguém.”
Bahia
O
DEM mantinha relação estreita com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), mas se afastou
do tucano após a bancada do partido na Câmara se aproximar de Bolsonaro. A
legenda também conversa com o PDT, mas o fator decisivo será o tabuleiro
eleitoral na Bahia. Presidente do DEM, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto planeja disputar o
governo, e seu provável adversário será o senador Jaques Wagner (PT).
“A
troca de apoio mútuo entre um Estado e outro aparece no plano horizontal, mas
não necessariamente em função vertical. Ou seja: aliança nacional determinando
a aliança estadual. Se dá um cruzamento. A lógica é não perder para o atraso.
As alianças são para não perder os Estados para a concepção do atraso”, disse o
governador da Bahia, Rui Costa (PT).
A
avaliação de deputados e quadros do DEM é de que Neto não tem outra opção a não
ser posicionar-se no polo oposto ao de Lula em uma eventual polarização. Costa,
por sua vez, governa com uma ampla aliança que vai do PP ao PSB, passando por
Podemos, PSD e PL.
Minas
Gerais
No
caso do PSD, o discurso do presidente da sigla, Gilberto Kassab, é o de que o partido
terá candidato à Presidência em 2022. Foi o que ele reafirmou ao Estadão. Nos bastidores, porém,
a avaliação é de que as costuras em torno da candidatura ao governo mineiro do
prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), vão
influenciar um eventual acordo nacional. Como o PSD tem vocação governista nos
Estados, Kassab terá de ouvir os caciques regionais antes de tomar uma
decisão.
A
lógica local prevalece nos partidos do Centrão. Um deputado do PL ouvido pela
reportagem disse que a palavra final é sempre de Valdemar Costa Neto, que comanda
a sigla. O dirigente vai consultar todos os Estados e avaliar qual estratégia
tem maior potencial de ampliar a bancada. Ainda de acordo com esse mesmo
deputado, “de São Paulo ‘para baixo’, o PL é Bolsonaro; ‘para cima’, é
Lula”.
No Rio, a construção de uma aliança em torno do deputado Marcelo Freixo para disputar o governo fluminense terá peso nas negociações entre PSOL e PT para apoiar Lula em 2022. Petistas admitem apoiar o deputado. Em outra frente, o deputado Rodrigo Maia (DEM) deve se filiar ao MDB e assumir o controle da sigla no Estado. Se isso se confirmar, Maia ganhará uma cadeira ao lado de Renan Calheiros, Jader Barbalho, José Sarney e Baleia Rossi no colegiado de líderes que comanda o MDB de fato.
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