Presidente,
centrão e amigos encenam a farsa da união nacional na semana que vem
Imagine-se
que, na semana que vem, Jair
Bolsonaro renuncie a si mesmo. Que abdique da alma monstruosa
que reina sobre o país da morte.
Nesse
universo paralelo, Bolsonaro acaba por se render na guerra civil que luta
contra estados e cidades, contra a vida e a razão. Passa a apoiar o
distanciamento social. No Ministério da Saúde, saem generais e coronéis
brucutus, terraplanistas e negacionistas em geral. Entra gente capaz de
organizar a distribuição de UTIs, remédios para intubações, oxigênio etc.
O governo
federal convoca um comitê de cientistas que coordenará
pesquisadores dedicados a entender as novas variantes do vírus e outras
virologias, infectologias e epidemiologias que permitam inventar estratégias
capazes de conter a disseminação da doença. Outro grupo prepara o plano para
cuidar dos sobreviventes com sequelas do coronavírus etc. O delírio é livre.
É
tudo imaginável, claro.
Bolsonaro
arranjou para a semana que vem uma reunião em
que espera receber apoio da cúpula de Judiciário e Legislativo para
criar um “gabinete de crise” da epidemia (vai ocupar a sala do gabinete do
ódio?). Será uma farsa, faltando saber apenas o tamanho da presepada. Para que
não o fosse, Bolsonaro teria de renunciar a si mesmo.
Bolsonaro quer ganhar tempo, assim como seus cúmplices no comando do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). Fará a pose do governante, no que tem sido ainda mais diminuído por prefeitos, governadores e até por Lula da Silva, que não governa coisa alguma.
Tentará
sufocar conversas sobre CPIs ou coisa pior. Quem sabe ocorresse uma
estabilização do número de mortes até o fim do mês. Seria resultado do trabalho
de governadores e prefeitos, mas Bolsonaro, como o grande parasita que é,
sugaria o esforço alheio.
Com
uma mão grande, Bolsonaro afana a faina dos outros. Com a mão pesada do
ferrabrás, Bolsonaro de novo volta a fazer ameaças de golpe, como em meados do
ano passado. Para sua massa, seria o líder contra o caos social que adviria das
políticas de distanciamento social. Para começar, sugere um estado de sítio.
Pacheco
e Lira também ganham tempo até que o diálogo com Bolsonaro pela união contra a
epidemia acabe por se revelar a farsa que é —ou até que as pessoas comecem a
agonizar sufocadas nas calçadas dos hospitais.
O
objetivo comum é conter com custo baixo a ira crescente contra o genocida. O
acordão Bolsonaro-centrão não se sustenta com fúria popular crescente. Os
colaboracionistas do empresariado, assim como os cúmplices por omissão, esperam
também essa água na fervura que começa.
Para
que a farsa durasse pelo menos um ato, Bolsonaro teria de engolir por uns dias
as imundícies que cospe sobre as políticas de distanciamento, violência agora
acompanhada de ações do governo na Justiça contra estados que adotam lockdowns
(fajutos, mas ok). Seria também o mínimo para não desmoralizar logo de cara o
ministro da Saúde que nem assumiu, esse que anuncia que a ciência irá para o
governo.
Quanto
mais tempo levar a farsa, melhor para a sustentação do grande acordo de morte
entre centrão, Bolsonaro e o grosso da elite econômica.
Em abril, começa a ser pago o auxílio emergencial. Há uma chance de estados e cidades conterem a explosão contínua de mortes na virada do mês, a tal estabilização do horror. Neste mundo sem Deus e em um país que aceita quase 3.000 mortes por dia, tudo é possível. O tombo da economia e os 100 mil cadáveres extras até o fim de abril já estão no preço da política e da elite.
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