Medidas
duras contra governadores só podem ser intervenções. Não terá sido ocasional a
presença da expressão estado de sítio antes da ameaça
Embora
lerda como poucas, a
investigação das tais "rachadinhas" de Flávio, além de outra vez
autorizada, afinal vê surgir a do filho Carlos e encontra o nome Jair. O filho
mais novo, ainda com os primeiros fios no rosto, inicia-se como investigado por
tráfico de influência.
"Com crise econômica, o meu governo acaba" é a ideia que orienta Bolsonaro mesmo nos assuntos da pandemia. Nos quais não deu mais para manter a conduta de alienação e primarismo diante do agravamento brutal da crise pandêmica.
A
reação de Bolsonaro foi a tontura do desesperado. Lula pega a bandeira da
vacina, então é urgente pôr a vacina no lugar da cloroquina. Põe máscara. Tira
máscara. Volta à cloroquina. Culpa os governadores. Mas o empurrado é Pazuello.
Escreve carta solícita a Biden e recebe uma resposta de cobrança sobre meio
ambiente. Volta à vacina. Falta vacina.
Se
300 mil mortes não importam a Bolsonaro, é esmagador o reconhecimento
inevitável de que a vacina de João Doria veio a ser um pequeno salvamento e uma
grande humilhação para o governo. E a economia decisiva? Inflação, necessário
aumento dos juros, ameaça às exportações, fome, socorro em algum dinheirinho a
45 milhões e contra as contas governamentais.
Bolsonaro corre
ao Supremo, com uma ação contra os governadores, pretendendo que sejam
proibidos de impor confinamento e reduzir a atividade econômica ao essencial.
Não sabe que o regime é federativo e isso o Supremo não teme confirmar.
"É
estado de sítio. Se não conseguir isso [êxito no Supremo], vem medidas mais
duras." Medidas duras contra governadores só podem ser intervenções. Não
terá sido ocasional a presença da expressão estado de sítio antes da ameaça.
Tudo no telefonema e no que foi dito depois reduz a uma ideia: golpe.
Tudo em
casa
O
corporativismo, conhecido nas ruas por cupinchismo, arma um lance espertinho
para livrar-se de uma decisão entre duas possíveis: reconhecer que Sergio Moro
levou à violação do processo eleitoral de 2018 pelo próprio Judiciário ou
carregar, para sempre, o ônus de tribunal conivente com a violação, para salvar
o que resta de Moro. Nessa armação, Kassio Nunes Marques faz sua verdadeira
estreia no Supremo.
Os
ministros Edson Fachin e Nunes Marques propõem que o plenário do Supremo
examine primeiro a anulação das condenações de Lula. Se aprovada, seria
cancelada a apreciação final, que deveria vir antes, sobre a imparcialidade ou
parcialidade de Sergio Moro. Com essa inversão da agenda, Marques não
precisaria dar o voto incômodo que protela. E Moro e suas ilegalidades, que
Gilmar Mendes relatou, iriam para o beleléu. Com o necessário cinismo, a
anulação das condenações seria dada como solução para o problema Moro.
Complicado, mas esperteza óbvia não é esperta.
Ocorre, no entanto, que a ação à espera do voto de Nunes Marques é sobre a conduta de Sergio Moro como juiz, se cumpriu ou transgrediu as normas a que estava obrigado e agiu com ética judicial (a pessoal teve julgamento público). Disso a decisão de Fachin não trata, mas a moralidade judicial não pode dispensar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário