Pergunta de milhões de idiotas a Bolsonaro: por que rir dos “CPFs cancelados”?
Nosso Brasil, tão brasileiro, atingiu a marca de 400 mil mortos por covid-19 com um rastro de dor e tristeza e um horizonte de dúvidas e disputas políticas. “São só 400 mil CPFs cancelados, e daí?”, diria o presidente Jair Bolsonaro. Mas, por trás de cada um desses CPFs há uma vida perdida, uma família despedaçada e tantos amores desesperados.
Dos 5.570 municípios brasileiros, só 65 têm mais de 400 mil habitantes (IBGE, 2020). Logo, é como se a população inteira tivesse desaparecido em 5.505 cidades do País. Como se aquela cidade, porventura a sua, tivesse sumido do mapa, virado fantasma, em um ano de pandemia.
Diante
dessa calamidade histórica, que marcará nossas vidas e a história do País para
sempre, o Supremo Tribunal Federal, o Congresso e o Ministério Público querem
investigar, saber e informar por que, e por responsabilidade de quem, caímos
nesse precipício. Para isso existem, por exemplo, as CPIs.
Há quem
ataque as instituições e seus representantes, mas a história e a Nação têm o
direito de saber a verdade. Goste-se ou não do senador Renan Calheiros, ou dos
integrantes da CPI, do Senado ou do Congresso inteiro, eles foram eleitos e têm
tanta legitimidade quanto o presidente. Bolsonaro
tinha a
obrigação de combater a pandemia, mas não combateu. Eles têm o dever de
investigar fatos e erros e estão investigando. O foco é a pandemia, “quem não
deve não teme”.
O
ex-presidente Lula foi condenado e preso pela Justiça por corrupção, mas Dilma
Rousseff sofreu impeachment no Congresso, não por corrupção, mas por pedaladas
fiscais e incompetência, porque a economia não resistiria a mais dois anos com
ela. A corrupção é criminosa e imoral, mas há outros crimes graves de
responsabilidade, que até matam brasileiros.
Como
Dilma, Bolsonaro é um desastre inclusive na articulação política. Não queria a
CPI, ela está aí. Não queria Renan Calheiros relator, ele é. Achou que manipularia
o presidente da comissão, Omar Aziz, e ele cumpre seu papel. Tentou conquistar
o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e ele tem sido um magistrado. Os fatos
fazem o resto. Deixam o Planalto sem defesa, em pânico, enquanto a seita
bolsonarista produz dossiês apócrifos contra testemunhas e faz ameaças anônimas
contra senadores.
A semana
que vem será quente. O ex-ministro Luiz Henrique Mandetta contando como alertou
o presidente para a carnificina, se o Brasil não ouvisse a OMS e a ciência. Seu
sucessor Nelson Teich relatando pressões pela cloroquina. E o vexame – e as
mentiras – do general Eduardo Pazuello...
O atual
ministro, Marcelo Queiroga, vai admitir que o governo confiscou e depois
sonegou o kit intubação, orientou torrar as vacinas com a primeira dose, sem
garantia da segunda? E o respeitado almirante Barra Torres, da Anvisa, vai
repetir na CPI que foi contra o uso da cloroquina contra a covid, como disse ao
Estadão? (“É um risco enorme”, 20/3/2020).
O
governo continua dando farta munição à CPI. No mundo inteiro, os líderes tomam
orgulhosamente a vacina, mas, aqui, o chefe da Casa Civil, general Luiz Eduardo
Ramos, confessa: “Tomei escondido, né, porque a orientação era para não criar
caso”. O governo é contra a vacina!
O
ministro Paulo Guedes diz que a China “inventou o vírus” e lamenta que a
população viva tanto. Pazuello, ex-ministro da Saúde, vai ao shopping sem
máscara. Em Manaus! Onde pessoas morreram sem oxigênio, sem piedade e sem
governo.
E a CPI pode fazer ao presidente da República a pergunta de milhões de idiotas: por que ele estava morrendo de rir com a placa do “CPF cancelado”? Essa é a gíria dos grupos de extermínio para cada morte, logo, são 400 mil CPFs cancelados. Isso, sinceramente, não tem graça nenhuma.
Nenhum comentário:
Postar um comentário