Valor Econômico
A economia estará em melhores condições,
com a taxa de desemprego recuando para próximo de 11% no período eleitoral
As eleições de 2022 estão distantes, mas a
corrida eleitoral já começou. Os candidatos mais fortes hoje são o presidente
Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Lula (PT). A construção de uma 3ª via
competitiva dificilmente evoluirá, pois não há uma figura óbvia capaz de
aglutinar parte da sociedade em torno de uma agenda de centro e evitar a
polarização entre Lula e Bolsonaro no 2º turno.
Duas candidaturas, porém, tirarão muitos
votos dos candidatos mais fortes, sem mencionar o provável aumento dos votos
brancos e nulos. O nome consolidado, por ora, é o do ex-governador Ciro Gomes
(PDT). Por representar um perfil de centro-esquerda, sua candidatura tende a
tomar votos primordialmente de Lula. Por outro lado, o nome a ser escolhido
pelo PSDB, com viés de centro-direita, tirará votos principalmente de
Bolsonaro.
As pesquisas de intenção de voto indicam
Lula à frente de Bolsonaro nas simulações de 2º turno. Não obstante, esses
resultados somente retratam o quadro atual, podendo mudar nos próximos
trimestres em favor do ocupante da Presidência.
O principal fator contra Bolsonaro está associado à morte de mais de 500 mil pessoas, vitimadas, em parte, pela inação do seu governo e pela desastrosa atuação do presidente. O maior obstáculo para sua candidatura seria a CPI da covid-19 prosperar e, juntamente com o adensamento das atuais manifestações populares, impedir a consolidação e conquista de votos. A improvável, neste momento, abertura de um processo de impeachment dificultaria ainda mais a reeleição. Sem essa dinâmica e apesar da calamidade gerada pelos indesculpáveis erros do governo, esses temas podem estar menos presentes no noticiário na época das eleições, dado o esperado colapso do número de casos e mortes diárias com a imunização de grupo.
Por outro lado, é provável que Bolsonaro
seja vocal nos próximos trimestres sobre a sua pretensa vitória contra o
coronavírus, alegando que foi o seu governo que promoveu a compra de vacinas e
a vacinação da população. Ademais, as críticas contra as ações do presidente
durante a pandemia, muito vivas hoje, podem infelizmente não estar no rol das
considerações de parte expressiva dos eleitores em outubro de 2022.
Bolsonaro também tem se movimentado para
conquistar maior apoio. O presidente, por exemplo, parece inclinado a elevar os
salários do funcionalismo federal em 5% no próximo ano para arregimentar votos
e evitar greves. Em um contexto de alto desemprego e de aumento da miséria, é
questionável a elevação dos salários para um grupo que goza de garantia de
emprego e rendimentos superiores aos pagos pelo setor privado. Todavia, a
elevação permanente da folha de pagamentos - servidores ativos e, por conta da
paridade, aposentados - em cerca de R$ 20 bilhões em 2022 não parece um entrave
para o desejo do presidente, mesmo que correspondendo a mais de 50% das atuais
despesas com o Bolsa Família.
Para alcançar a camada mais vulnerável da
população, Bolsonaro tem a seu favor o Auxílio Emergencial e a ampliação dos
benefícios e do número de famílias atendidas pelo Bolsa Família a partir de
2022 - Bolsonaro divulgou um aumento para quase R$ 300 por mês. Esse movimento
eleva o apoio ao presidente, apesar de o ex-presidente Lula estar muito
associado à implantação de programas de apoio aos mais necessitados.
Bolsonaro também tem atuado para aumentar
sua base política. A busca por um partido sobre o qual tenha controle da
alocação de recursos e da seleção de candidatos faz parte dessa estratégia. O
escolhido parece ser o Patriota. Como sua representatividade no Congresso é
reduzida, a construção de uma coalizão de apoio é relevante para angariar
recursos e tempo de propaganda eleitoral - a campanha de 2018 sugere, porém,
que isso não é crucial.
Para construir esse apoio, o presidente
pode direcionar parte dos gastos do Orçamento de 2022. Entretanto, esse
direcionamento pouco servirá se a covid-19 não tiver sido derrotada, a
recuperação da atividade não se sustentar e a inflação não recuar bastante.
Mesmo se beneficiados com vultosos recursos no Orçamento de 2022, os líderes
dos partidos retardarão a definição do seu apoio nas eleições até terem clareza
sobre a dinâmica da economia.
O ambiente econômico ainda é desfavorável,
com a taxa de desemprego de 13,4% em março dificilmente recuando de forma
significativa neste ano. Ademais, a inflação IPCA acumulada em 12 meses tem
aumentado desde o 3º trimestre de 2020, alcançando cerca de 8,5% agora em
junho. Esse ambiente é um dos fatores que contribui para a liderança de Lula
nas simulações de 2º turno.
Entretanto, a retomada da atividade tem
sido mais sólida do que antecipado, com o crescimento do PIB podendo alcançar
6% neste ano. Mesmo que a expansão em 2022 diminua para o intervalo entre 1,5%
e 2,5%, a economia estará em melhores condições, com a taxa de desemprego recuando
para próximo de 11% no período eleitoral. Ao mesmo tempo, a inflação IPCA tende
a retroceder a partir de agosto, alcançando 3,8% no fim de 2022, segundo
projeções do Focus. A menos que a inflação seja muito mais alta e a atividade
mais fraca, os fundamentos da economia serão mais favoráveis para o presidente.
Por fim, Bolsonaro fará uso da sua forte
presença e apoio em diversas redes sociais. A estratégia utilizada na eleição
passada continua potente, apesar do desgaste com algumas personalidades que se
afastaram do presidente. Mais do que defender o seu 1º mandato, a campanha se
concentrará, provavelmente, em críticas ao período do governo PT e em acusações
de malfeitos de membros do partido.
Em suma, as atuais pesquisas eleitorais são
incapazes de antecipar o resultado eleitoral de 2022, pois representam uma
fotografia do atual momento. A corrida eleitoral só está começando e, portanto,
não é possível ter prognósticos robustos, que não seja a impressão de que, a
não ser que a sociedade não esqueça as irreparáveis perdas de vidas com a
pandemia, os fatores que definem a eleição tendem a estar mais favoráveis para
Bolsonaro em meados de 2022.
*Nilson Teixeira, sócio-fundador da Macro Capital Gestão de Recursos
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