O Globo
O pastor está mais próximo de vestir a toga
de juiz. Na sexta passada, Jair Bolsonaro levou André Mendonça a um templo da
Assembleia de Deus. No púlpito, sugeriu que ele ocupará a próxima vaga no
Supremo Tribunal Federal.
“Nós
indicaremos um evangélico para que o Senado aceite o seu nome e encaminhe para
o Supremo um irmão nosso em Cristo”, disse o presidente. A plateia explodiu em
“aleluias”, e o advogado-geral da União deu um novo passo rumo ao olimpo do
Judiciário.
A nomeação de um ministro “terrivelmente
evangélico” é música para os ouvidos da bancada da Bíblia. O presidente já
mantém três pastores no primeiro escalão do governo. Agora promete transferir
um deles para a cadeira do decano Marco Aurélio Mello, que se aposenta em
julho.
O lobby religioso sempre quis ter um porta-voz no Supremo. Na última década, a Corte reconheceu o direito à união homoafetiva, permitiu o aborto de anencéfalos e criminalizou a homofobia. Um “irmão nosso” assumiria com o compromisso de travar outras pautas progressistas.
Entre muitos juristas evangélicos,
Bolsonaro tem um motivo para indicar Mendonça. O ministro é um servo fiel à
agenda autoritária. Sua passagem pelo Ministério da Justiça ficou marcada pelo
uso da Lei de Segurança Nacional para perseguir opositores.
De volta à AGU, o pastor continuou a dar
provas de subserviência. Há duas semanas, tentou convencer o Supremo a
autorizar a convocação de governadores à CPI da Covid. A ideia é ilegal, mas
ajudaria o Planalto a desviar o foco das investigações.
Agora o ministro defende que civis acusados
de ofender as Forças Armadas sejam processados e julgados pela Justiça Militar.
A proposta remete aos inquéritos da ditadura para sufocar a liberdade de
imprensa.
Entre o capitão e a Constituição, Mendonça
costuma escolher o lado do chefe. Mais que um ministro “terrivelmente
evangélico”, o Supremo corre o risco de ganhar um ministro terrivelmente
bolsonarista.
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