Blog do Noblat / Metrópoles
Felizmente, prevaleceu a democracia e sua
hierarquia: a justiça eleitoral foi respeitada
A eleição da semana passada desnudou a realidade de um país hierarquizado. A hierarquia social de um Nordeste pobre e um Sul rico, mostrada em falas preconceituosas de seguidores contra o povo nordestino. A hierarquia racial, irmã da social, que coloca desde sempre os brancos como superiores aos negros e aos índios. Há uma clara hierarquia entre os candidatos conforme a participação de seu partido no fundo partidário. Por meses o processo eleitoral teve uma hierarquia entre militares e civis, em que estes ficaram esperando que os fardados dissessem se as urnas eram confiáveis, e esperando para saber se eles respeitariam o resultado das urnas ou se usariam as armas para impedir a vontade dos eleitores.
Felizmente, prevaleceu a democracia e sua
hierarquia: a justiça eleitoral foi respeitada e a maioria dos eleitores
conseguiu eleger um candidato que já está aceito, embora contestado por alguns
que se consideram superiores à maioria, na hierarquizada democracia brasileira.
Falta ver se além de escolher o candidato, a democracia vai ser capaz de
entender que a mãe de todas hierarquias está na hierarquia como a educação é
distribuída conforme a renda e o endereço de cada criança. Se o novo governo
vai dar passos para superar a maldita hierarquia que oferece “escolas casa
grande” para os filhos dos ricos e “escolas senzala” para os filhos dos pobres.
É esta hierarquia que constrói todas as demais. Se as crianças pobres
estudassem em escolas com a mesma qualidade dos filhos dos ricos, certamente o
Brasil não seria um país hierarquizado social ou regionalmente.
Lamentavelmente, nem a Abolição, nem o
Desenvolvimento, nem a Democracia serviram até aqui para construir um sistema
escolar com a mesma qualidade. O Brasil mantém a hierarquia de renda para
definir a hierarquia na qualidade de suas escolas, e isto constrói todas as
demais hierarquias que dividem e deformam a sociedade e a democracia
brasileira, como estamos assistindo nos últimos dias, reflexo de décadas de uma
sociedade com sua imensa desigualdade tolerada.
*Cristovam Buarque foi senador, ministro e governador
Um comentário:
Cristovam é, acima de tudo, PROFESSOR! Sempre defendendo a Educação brasileira! Parabéns, mestre!
Postar um comentário