Folha de S. Paulo
Revelações sobre joias não
devem afetar apoio de bolsonaristas raiz ao ex-presidente
A cada nova
manchete, Jair
Bolsonaro parece mais enrolado no caso de venda
e recompra de joias que deveriam pertencer ao Estado
brasileiro, mas que ele tomou para si. O que eu ainda não sei é se a legião de
militares que o auxiliou nos malfeitos ficaria com uma parte do butim ou se
agia só por amor à causa.
Outra questão interessante diz respeito ao impacto que as revelações terão sobre o público bolsonarista.
A suposta
incorruptibilidade do suposto mito era a derradeira ilusão a que os
bolsonaristas se agarravam após o capitão reformado ter traído suas principais
bandeiras de campanha. O candidato pró-Lava Jato e
antissistema, afinal, acabou sendo o presidente que enterrou a Lava Jato e
deitou no colo do sistema (centrão). E a tão propalada honestidade estava mais
na cabeça dos apoiadores do que nos fatos.
Os sinais de que Bolsonaro
não era muito católico (nem evangélico) no trato da coisa pública antecedem a
própria eleição: Wal do Açaí, rachadinhas
familiares, cheques do
Queiroz, intermediações
suspeitas na compra de vacinas, corrupção no
MEC e, é claro, as joias. Até acho que um ou outro entusiasta
do mito possa agora deixar de apoiar o ex-presidente, mas não creio que veremos
um movimento de massas nessa direção. Se há algo que não se deve subestimar em
nossa espécie é sua capacidade para o autoengano. Sempre dá para racionalizar e
inventar uma justificativa.
Vemos algo parecido nos
EUA. Donald Trump vai
se tornando réu numa
série de processos, mas isso não parece abalar suas chances de
ganhar a indicação para concorrer como candidato republicano. Pelo contrário,
cada novo processo aberto contra ele se torna uma "confirmação" de
que o ex-presidente é perseguido pelo establishment, o que seria mais uma razão
para votar nele.
Neurocientistas às vezes dizem que a realidade é uma alucinação controlada. Concordo com a parte da alucinação, mas tenho dúvidas sobre o "controlada".
2 comentários:
Perfeito
Acertou na mosca.
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