O Estado de S. Paulo
‘Militares envolvidos no escândalo das joias estão sujeitos a punições severas’, diz brigadeiro
A graça irresistível revelava antes o
ceticismo de quem não se deixa conduzir por grupos ou arautos da salvação.
Despir o rei e exibi-lo é uma das mais velhas funções da crônica política.
Gregório de Matos escolheu a poesia, Millôr Fernandes, a frase lapidar. Nesta
quarta-feira, o escritor que golpeou como poucos o mundo político brasileiro
completaria cem anos.
É impossível não lembrar dele diante do escândalo da venda de joias da Presidência. É já sabido o impacto do caso na caserna. E continuará tendo a partir dos desdobramentos do que foi apreendido com o general Mauro Cesar Lourena Cid.
Diante da barafunda do bolsonarismo, o
brigadeiro Sérgio Xavier Ferolla, ex-presidente do Superior Tribunal Militar,
lembra ter alertado no passado para “a violação dos pilares ‘hierarquia e
disciplina’, base de sustentação da instituição militar e dogma sagrado do
enaltecido mito de Caxias”. E prossegue: “O presidente (Bolsonaro), um capitão
que não teve condição de prosseguir na carreira militar, exatamente por ter,
rotineiramente, violado esses dogmas, se valeu das motivações originadas pela
execrável política partidária brasileira para mobilizar radicais e chegar à
Presidência”.
Segundo ele, “enaltecendo interesses
patrióticos, mobilizou seguidores que execravam verdadeiro mar de lama dentre
os quais, infelizmente, militares da ativa e da reserva que, se esquecendo dos
compromissos assumidos em juramento solene ao ingressarem na carreira das
armas, se associaram e apoiaram inimagináveis ações de afronta e desrespeito às
instituições e solapando, inclusive e principalmente, a nobreza presidencial”.
Ferolla é duro: “Com as fardas contaminadas
pela hipocrisia e dejetos da baixa política, tentaram envolver as Forças
Armadas que imaginavam liderar”. Mas, segundo ele, predominou “a inabalável
estrutura das instituições democráticas e, no momento, a caserna luta para
recuperar o tradicional e histórico respeito do povo brasileiro, origem dos
abnegados servidores e combatentes profissionais”.
Agora é a vez de o Judiciário se
manifestar. O brigadeiro conclui: “Quanto aos militares envolvidos nos delitos,
se condenados e sem qualquer alusão às origens profissionais, caberá à Justiça
Militar julgar e aplicar o estabelecido no Código Penal Militar, estando
sujeitos, inclusive, a severas penas que incluem a perda de posto e patente”.
Após o relato de Ferolla, impossível não
lembrar a reação de Millôr diante da conta bilionária pendurada no erário para
pagar indenizações às vítimas da ditadura. Tal como então, pode-se aplicar
agora a mesma pilhéria à turma que pregava o golpe. “Quer dizer que aquilo não
era ideologia, era investimento?”
Um comentário:
Pra rir e chorar ao mesmo tempo.
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