Valor Econômico
Carlos Siqueira avalia que existe risco de
surgir uma nova liderança da extrema-direita que substitua Bolsonaro
O nome “Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte” foi a última de uma série de derrotas do PSB na minirreforma ministerial feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Instantes antes de ser divulgada a edição da medida provisória que criou o 38º posto na Esplanada dos Ministérios, que manterá no primeiro escalão o ex-ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França, o presidente nacional da sigla, Carlos Siqueira, afirmava que o partido pedira a Lula para a nova pasta se chamar “Ministério da Economia Criativa, do Empreendedorismo e do Cooperativismo”.
A questão da nomenclatura não é um simples
detalhe. Uma das grandes preocupações do partido, conforme disse Siqueira
ao Valor, era
que a nova pasta de Márcio França recebesse uma estrutura que fosse além da
Secretaria Nacional de Micro e Pequenas Empresas, hoje no organograma do
ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Geraldo Alckmin,
vice-presidente da República. Essa secretaria, segundo Siqueira, “é muito
pequena”.
Ter um aceno à economia criativa e ao
cooperativismo no nome da pasta sinalizaria um protagonismo maior de França em
políticas de apoio a crédito para o setor privado e mais interface com o
Congresso, onde há vários projetos de fomentos a esses temas.
Embora Siqueira tenha dito que o “PSB não
trabalha com ideia de mágoa”, o dirigente afirmou que “nada é agradável”,
demonstrando incômodo com a reforma ministerial. Considera que, se o propósito
da mexida no Ministério que colocou Silvio Costa Filho no lugar de França era
consolidar a base no Congresso, o resultado poderá ser inócuo. E sua
realização, um gesto de fraqueza.
“É um sinal de debilidade a oposição ir
para o governo, em qualquer país do mundo. O PP e o Republicanos não são da
base do governo e se empenharam para derrotar Lula em 2022, apoiaram a reeleição
de Jair Bolsonaro. Os dirigentes desses partidos continuam dizendo que não
apoiarão Lula. Isso pode gerar reação na sociedade”, disse.
De acordo com Siqueira, a maior parte das
bancadas desses partidos já vota com o governo desde o início do ano e não iria
mudar de comportamento caso Lula não fizesse a reforma. “O que isola o
bolsonarismo é gestão, não é entregar Ministério para o Centrão”, disse.
A possibilidade de um rompimento, contudo,
jamais foi cogitada. “A democracia no Brasil saiu da UTI, mas não saiu do
hospital. Continua em risco. É preciso que este governo dê certo”, disse
Siqueira.
O risco em questão, de acordo com o
dirigente, é o surgimento de uma nova liderança da extrema-direita que
substitua o ex-presidente Jair Bolsonaro, declarado inelegível pelo Tribunal
Superior Eleitoral.
O PSB vive um momento de encolhimento
político, embora tenha eleito Alckmin vice-presidente, na chapa de Lula. O
partido perdeu em 2022 o governo de Pernambuco, onde tinha hegemonia desde
2006. Sua votação para a Câmara dos Deputados caiu de 5,2 milhões para 4,2
milhões de votos e a bancada despencou de 32 para 14 parlamentares eleitos. O
resultado poderia ser ainda pior, segundo Siqueira, se o partido tivesse
fechado acordo com o PT para entrar uma federação partidária. Além de França e
Alckmin, o PSB conta ainda na Esplanada dos Ministérios com o ministro da
Justiça, Flávio Dino. Nas últimas semanas o nome de Dino ganhou força para ser
indicado para o Supremo Tribunal Federal.
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