O Estado de S. Paulo
A situação internacional está ficando mais delicada e difícil para o Brasil
Lula divide o mundo entre países tubarões e
bagrinhos. Os tubarões estão sentados no Conselho de Segurança da ONU e atacam
conforme julgam necessário. Os bagrinhos obedecem a leis e aderem a entidades
como o Tribunal Penal Internacional.
Na visão do presidente brasileiro, o Brasil é um bagrinho com pretensões a tubarão, com boas chances de serem realizadas. Sua assessoria internacional lhe garante que o próprio eixo da Terra está mudando depois da recente expansão dos Brics, comandada pela China, um dos tubarões pelos quais Lula tem grande admiração (o outro é a Rússia).
As mordidas que Lula distribuiu até aqui
foram na direção dos Estados Unidos. Que ele tem como o principal responsável
(senão o único) por uma ordem internacional que condena o Brasil a nadar como
bagrinho. Mas agora o exclusivo clube ocidental do G-7, prossegue a assessoria
internacional de Lula, não vale mais a mesma coisa e no G-20 o Global South
fala de igual para igual com os ricos.
Na verdade, a contestação da “ordem
liberal” liderada pelos EUA pelo eixo autocrático China-Rússia criou para o
Brasil uma situação extraordinariamente delicada. Já estamos numa guerra fria
bem pior e muito mais perigosa do que a última.
Em termos brutalmente simples, o Brasil é
parte do amplo mundo ocidental por conta de história, cultura e universo de
valores (como direitos humanos). E depende da China como seu principal mercado
de exportações de commodities.
Mais ainda: parte relevante da tecnologia e
insumos que fizeram do Brasil uma superpotência na produção de alimentos
depende de países ocidentais. Assim como o acesso a bens e tecnologias
diretamente ligadas a segurança e defesa – Alemanha para o Exército, França
para a Marinha e Suécia para a Aeronáutica, todos na Otan.
Neste momento as duas superpotências se
empenham em solidificar alianças para contestar a hegemonia de uma ou a
pretensão hegemônica de outra. Parecem deslizar para um conflito armado de
consequências imprevisíveis na Ásia. A guerra na Ucrânia, que no jargão
geopolítico é do tipo “localizada”, obrigou Putin e Xi Jinping a refazer
cálculos estratégicos quanto à “decadência” do adversário ocidental.
Mas boa parte do que Lula reproduz em seus
discursos sobre a situação internacional são as mesmas avaliações que China e
Rússia fazem de um Ocidente em declínio e injusto com os bagrinhos. Acaba
prejudicando o que seria o interesse óbvio do Brasil (potência regional média):
manter equidistância como puder, enquanto puder. Não precisa se comportar como
bagrinho.
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