quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Aylê-Salassié Filgueiras Quintão* - Uma elite poderosa financia ilusões

O Lula convidou Putin para visitar o Brasil, e   garantiu que, aqui..., ele  não será preso . O atual presidente brasileiro é dado a atitudes   retóricas extravagantes, convicto de que   fala em nome de 220 milhões de cidadãos. Eis aí o pingo nos "is"! Em seu giro  pelo mundo , acompanhado de Janja e Celso Amorim, tem  desafiado a  ordem e a  justiça  na pretensão de "retomar o tal  protagonismo do Brasil" na política mundial: "Nada fora do multilateralismo", adverte a secretária-geral do Itamarati, Maria Laura, ex-chefe de Gabinete de  Amorim.

Nosso Presidente parece se ver  suficientemente empoderado  no cenário. No caso do líder russo, ignorou que Putin foi condenado pelo   sequestro de 200 crianças,  e por mantê-las em cativeiro. Não entrou na acusação  a  invasão gratuita da Ucrânia,  com a  morte de milhares de civis, e até de   Prigozin, seu amigo,  acusado de traição . Ele teve um fim igual ao de Camilo Cienfuegos, em Cuba. O companheiro de Fidel  , com um pequeno grupo guerrilheiro, foi quem tomou Havana (1959). Fidel  desembarcou lá quase dez dias depois. Tinha ciúme da popularidade do amigo. Resultado: morreu na queda de um avião.

Esses personagens da política tem quase sempre  comportamentos inusitados e  escatológicos . Ajustam-se ideologicamente para encobrir  promessas , contradições,  tramoias de que participaram, e até assassinatos. A pergunta  que incomoda  é  que mundo as ideologias estão pretendendo construir, particularmente, no Brasil. Não parece ter nada a ver com a democracia que pregam, e desrespeitam. Quem financia as ilusões

Nosso  "globe trotter",  com declarações espetaculosas e acordos de conteúdos e sentidos  duvidosos, quer , agora,  da Organização das Nações Unidas (ONU), um assento permanente para o Brasil  no Conselho de Segurança, com direito a voz e veto, prerrogativa que se transformou, de fato,  em privilégio de  somente cinco Estados, dos  15 de seus membros  do Conselho: Rússia , China, Estados Unidos, França e Inglaterra. Vetam a si mesmo. 

Com suas teses voláteis e um alto grau de autoconfiança,  Lula parece ter caído  na malha de uma conspiração mundial, fantasiada com a ideia  da união dos países do hemisfério Sul contra o Norte, representada pelo   BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).  É  sofismático, porque a Rússia e a China estão nos hemisférios Norte, o Brasil e a Índia localizam-se  em ambos, que chamam de  margem equatorial . Assim, de manobra em manobra, o Presidente brasileiro encontra soluções próprias nos discursos alheios, como a cultivada para preservação da Amazônia. 

A médio prazo, é uma   espécie de  contrato de arrendamento, sob forma de  quotas, por tempo determinado,   de parcelas do bioma  amazônico, para governos e empresas nacionais e estrangeiras, equivalentes ao  volume de produção de  gases tóxicos  e os impactos   na biodiversidade. São os  "créditos de carbono" que  chancelam a continuidade da produção desses gases ou dos desmatamentos em outros lugares no Brasil ou no mundo.   Uma metodologia polêmica. Precedente perigoso para o futuro da região, sob o controle, ainda do Brasil.    Apropriou-se também da ideia da  "transição energética" que consiste na substituição dos combustíveis fósseis (petróleo, gás, carvão, urânio) pelos biocombustíveis. Lembra Garrincha : "O senhor já combinou com os russos?". E com os árabes?...

São temas que estão em todos os discursos do Presidente brasileiro, aos quais deverá retornar ainda este mês na abertura da Assembleia Geral da ONU, quando em sua fala poderá defender ainda a suspensão de sanções a países belicistas e a adoção, pela ONU, do português como língua oficial da Organização, sonho  do presidente de Portugal, Marcelo Rebelo, um advogado e acadêmico reconhecido na comunidade de língua portuguesa. 

Dispensando a sabedoria  da História e os conselhos  de alguns de alguns ministros , o Presidente brasileiro  está embaralhando a política externa e também a política interna , com ideias de consistência duvidosa, bem como  a administração  do Estado no Brasil . Internamente,   adotou, sem meias línguas,  um modelo de gestão da máquina do Governo com a  troca de favores pessoais  com políticos, até com inimigos...,  com o dinheiro público; e sinalizou para os membros mais inseguros do Judiciário e do Parlamento com a inspiração de uma mudança  radical nas linhas discursivas e na interpretação das leis.  Só nesse ano já consumiu 12 bilhões de reais no pagamento das chamadas - até pejorativamente - de "emendas parlamentares", que, no governo anterior, era prática conhecida como  "orçamento sigiloso" e, um pouco antes, de "mensalão".

Com o Presidente viajando todo tempo para o exterior, levando consigo sempre um ministro ou outro para servir de "papagaio de pirata", o Governo parece totalmente embaralhado nos casuísmos internos e convicções externas, ao  inspirar-se nos ordenamentos políticos - e não jurídicos - de Ji Jinping, de Vladimir Putin, Maduro, Ortega, da Kirchner e outros - com a ajuda dos sussurros de  Amorim . A própria democracia no mundo  é, para o brasileiro,  "relativa" :  repetição do conceito usado pelo  militar Ernesto Geisel, o penúltimo ditador brasileiro, que era visto como "general bonzinho, e assassino consciente" (Veja).
 
Nesse ritmo desenfreado, aparentemente ensandecido, depois de ter recebido com honras no Palácio do Planalto o ditador sanguinário da Venezuela, Nicolás Maduro, não é de se estranhar que com sua nova lista de amizades,   inaugure, na contra mão, um Brasil com ligações estreitas com regimes autoritários, ditaduras mesmo , procurando  encaminhar  ideias de desqualificação das instituições , entre as quais a  Corte Internacional de Justiça , organização da qual o Brasil faz parte desde Rui Barbosa. Como país soberano, o Brasil estaria acima disso. Sem meias palavras, age como se fosse   porta voz de regimes autoritários (de esquerda?!...) ou expressa-se coniventemente com as atitudes anti-humanista de   Vladimir Putin. Aviso: É outra cultura! 

Aparentemente, Lula , com a  sua explosão retórica, estaria sendo usado por estranhas forças no campo da política e da economia.   Tudo, no Brasil e em outros lugares no mundo, parece estar sendo  desconstruído. As novas narrativas apagam vozes de políticos, jornalistas e juízes, que reinterpretam casuisticamente as leis e até  a Constituição. Os brasileiros estão condenados a ouvir novos disparates daqui a uma semana na abertura da Assembleia Geral da ONU. Só  Nestor Kirchner , ex  da Argentina, entendeu Lula ; "Ele quer tudo, até um papa brasileiro". Deu o argentino Francisco... 

Daí as razões do entusiasmo de Janja, uma novata no circuito internacional, que, ao desembarcar em Nova Delhi, na milenar Índia, acompanhando seu marido que participaria da reunião do G20 (vinte países considerados mais desenvolvidos), mostrava-se  entusiasmada com as excentricidades litúrgicas : "Me segura que eu vou dançar"...  Nesses nove meses de Governo, ela já visitou 19 países e se hospedou nos melhores hotéis do mundo.

**Jornalista e professor

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