Folha de S. Paulo
Reação do STF a voto de Wagner escancara
arranjo insólito entre o tribunal e o Planalto
O roteiro estava escrito. Confirmada a
derrota no Senado,
ministros do STF denunciariam
uma tentativa de intimidação e vinculariam a aprovação da proposta que
restringe decisões da corte ao autoritarismo bolsonarista. A briga teria ficado
restrita a esses dois lados, se não fosse um voto que mudou o script.
Integrantes do tribunal foram dormir na quarta (22) mais irritados com o Planalto do que com a oposição. O apoio dado à PEC por Jaques Wagner, líder de Lula no Senado, fez com que ministros do STF culpassem o governo não só pelo corpo mole, mas pela adesão explícita de um de seus principais representantes.
O Planalto realmente tentou manter distância
da briga. Com dificuldades em sua própria pauta econômica, o governo preferiu
não gastar energia em defesa do STF. Correria o risco perder a votação e ainda
deixar a disputa marcada como uma vitória do bolsonarismo sobre Lula.
O governo pode dar a justificativa que
quiser. Só não pode negar que Wagner
cometeu uma barbeiragem. Se o senador votou a favor da proposta para
aproximar o Planalto ainda mais de Rodrigo
Pacheco, ele cumpriu seu papel de líder. Ao mesmo tempo, porém, ele
abalou uma aliança que Lula considera valiosa.
O fim do ciclo de Jair Bolsonaro ofereceu ao
petista uma aproximação natural com o Supremo. Os ataques de 8 de janeiro
reforçaram essa coalizão, em nome de uma certa estabilidade. Lula esperava,
assim, que a agenda do governo ficasse protegida de solavancos do outro lado da
praça dos Três Poderes.
A fúria de ministros do STF com Wagner
escancarou o que pode ser classificado como um arranjo insólito. Nos
bastidores, integrantes da corte falaram em adiar votações de interesse do
Planalto e cobraram até a saída do senador do posto de líder.
Nenhum governo deveria depender do STF para
fazer política econômica ou coisa que o valha, e nenhum tribunal deveria exigir
empenho político em troca de boa vontade. No fim, Wagner pôs em risco uma
aliança que nem deveria existir.
2 comentários:
Exatamente!
Sim! O colunista é muito preciso em seu texto, e com poucas palavras consegue sintetizar muitas situações bastante complexas, analisando-as com imparcialidade em geral. Parabéns ao colunista e ao blog que divulga seu trabalho!
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