Folha de S. Paulo
Conter decisão monocrática faz sentido, mas
ataques à corte são inaceitáveis
Está mais uma vez em cena uma onda de ataques
ao Supremo Tribunal Federal. São conhecidas as torpes investidas bolsonaristas
contra o STF com
sistemática difamação e perseguição a ministros, atos de truculência física e
violência simbólica.
A saga antidemocrática, de estarrecedor
perfil golpista, liderada por Jair
Bolsonaro é um dos capítulos mais sombrios e abjetos da
história do Brasil. Contou com a cumplicidade irresponsável de parte das elites
e a benevolência de setores da opinião pública que pareciam colocar o
antiesquerdismo atávico à frente dos riscos da consagração de uma autocracia
boçal e deletéria.
A pressão da extrema direita, sob o comando deformado do Executivo e suas milícias, certamente levou o Judiciário, na esteira do um embuste institucional, jurídico e legal chamado Lava Jato, a reagir de maneira ativa.
No embate, o ativismo do Supremo expandiu-se
e levantou barreiras ao que poderia ter sido um desastre de grandes proporções.
Foi crucial para evitar o mergulho do país
nos porões do bolsonarismo militarizado e assegurar o regime democrático. Sim,
as instituições em boa parte funcionaram na defesa da democracia –entre elas,
com distinção, o STF.
Nesse cenário acirrado, decisões da corte
também despertaram inquietações e provocaram reações, em especial o
protagonismo de Alexandre de
Moraes.
O aspecto mais controverso da atuação do
ministro foi a instauração de um inquérito no âmbito do Supremo, por ele
comandado, com o objetivo de investigar uma rede antidemocrática de divulgação
de notícias falsas, cravada no Planalto, que ameaçava o próprio tribunal.
Argumentos se levantaram contra esse procedimento, mas sua legalidade foi
chancelada por juristas respeitáveis.
É evidente que melhor teria sido se
iniciativas para cercear a malta fascistoide e seu líder destrambelhado fossem
compartilhadas ou lideradas pela Procuradoria Geral de República e pelo
Congresso. Não foi o que se viu, diante da subserviência chocante de Augusto Aras e
do cinismo fisiológico do Legislativo.
Coube ao STF colocar-se à frente. Como
escreveu o colunista Hélio Schwartsman,
já se vão três anos, não se poderia esperar que tal inquérito fosse conduzido
sem asperezas. E sem que erros fossem cometidos.
Tal circunstância, ainda que não possa e não
deva escapar ao crivo crítico da opinião pública, não justifica nem de longe a
campanha de sabotagem ao STF, ora promovida pelo presidente do Senado, Rodrigo
Pacheco, com o apoio do ex-presidente da casa, Davi Alcolumbre.
Tratam ambos de alimentar o rebanho bolsonarista e de atender a suas ambições
políticas de ocasião.
A PEC aprovada
nesta quarta (22) no Senado não é por si uma grande ameaça. Foi
amenizada e terminou por ter como efeito principal conter as decisões
monocráticas de ministros do tribunal. Há quem veja violação de cláusula pétrea
da Constituição por tratar-se supostamente de uma interferência de um Poder
sobre o outro.
Tais decisões individuais, no entanto,
geraram distorções e desconfianças sobre sua adequação, dadas as diferentes
linhas interpretativas dos juízes. A suspensão de leis votadas pelo Congresso e
sancionadas pelo Executivo por um único magistrado não parece convincente.
A questão é que não se trata apenas da
proposta ora aprovada.
Pacheco já assinou uma PEC em tudo obtusa e
revanchista para criminalizar o consumo de drogas e é a favor de limitar a
possibilidade de partidos políticos recorrerem ao STF. Em seu oportunismo,
revela-se, ao lado de seus asseclas, um agente nocivo ao equilíbrio entre os
Poderes.
Um comentário:
Excelente!
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