quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Elio Gaspari - Dallas, 22 de novembro de 1963

O Globo

Dois em cada três americanos acreditam que um complô matou Kennedy

Às 12h30 do dia de hoje, há 60 anos, uma bala de fuzil explodiu a cabeça de John Kennedy. Ele tinha 46 anos e era o primeiro presidente americano nascido no século XX.

Uma pesquisa do Instituto Gallup realizada há poucos dias informa que 65% dos adultos americanos acreditam que houve algum tipo de conspiração no atentado. Como um em cada dez americanos duvida que o astronauta Neil Armstrong tenha pisado na Lua em 1969, deve-se dar atenção ao vigor das notícias falsas.

Logo depois do assassinato, o presidente Lyndon Johnson constituiu uma comissão presidida pelo chefe da Suprema Corte, Earl Warren. Ela investigou o crime e concluiu que foi tudo coisa do ex-fuzileiro naval Lee Oswald, um sujeito desajustado que havia vivido na União Soviética. Tudo o que ele fez deu errado, menos uma coisa, que lhe deu dois dias de fama em vida, pois foi assassinado no dia 24.

O Relatório Warren em si tem 888 páginas. Reúne 15 volumes com cerca de 10 mil páginas de documentos. O Federal Bureau of Investigation (FBI) fez mais de 25 mil entrevistas e produziu 2.300 relatórios. Nada feito: dois em cada três adultos americanos continuam achando que houve mais gente envolvida.

A morte de Kennedy, como os discos voadores e a identidade de Jack, o Estripador, tornou-se campo fértil para transformar curiosidade em teoria.

Quem quiser entender o vigor da suspeita de que houve uma conspiração pode ir atrás do livro “Reclaiming History: the assassination of president John F. Kennedy” (Recuperando a História: o assassinato do presidente John F. Kennedy), do promotor americano Vincent Bugliosi (1934-2015). Com mais de mil páginas e 2,5 quilos de peso, ele esfarelou todas as teorias e concluiu que o Relatório Warren está certo. Bugliosi atuou nos julgamentos de 21 acusados de homicídio, condenou todos e mandou oito para o corredor da morte.

No coração de todas as conspirações está a “bala mágica”. Vinda de cima, acertou Kennedy na nuca. Saindo na altura do nó da gravata, atravessou o tórax do governador do Texas, atingiu seu braço e caiu no piso da limusine. Para quem acredita nisso, os tiros que acertaram o presidente foram dois. Para quem não acredita, há outro atirador. Warren e Bugliosi sustentam que esse terceiro tiro não aconteceu.

Tudo bem, mas pelo menos duas pessoas não acreditavam na “bala mágica”. Um era o presidente Lyndon Johnson. O outro, o poderoso senador Richard Russell, integrante da Comissão Warren.

Em maio de 1964, quatro meses antes da divulgação do relatório, Russell sabia que a comissão acreditava na trajetória da “bala mágica” e disse a Johnson:

— Eu não acredito.

— Nem eu — respondeu o presidente.

Johnson assumiu na tarde do dia 22 e morreu em 1973. Antes, durante e depois do Relatório Warren, ele indicou em pelo menos oito ocasiões que acreditava na conspiração. Sua teoria era que “Kennedy tentou pegar Fidel Castro, e ele pegou-o primeiro”.

No dia de hoje, há 60 anos, o chefe das operações especiais da Central Intelligence Agency (CIA) estava reunido com o major do Exército cubano Rolando Cubela num hotel de Paris. Discutiam a eficácia de uma seringa com veneno, disfarçada numa caneta, para matar Fidel. Quando veio a notícia de Dallas, o encontro foi encerrado.

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