Folha de S. Paulo
Como tantos outros da espécie, Milei foi
favorecido por um processo acelerado de normalização
Javier Milei representa
uma espécie peculiar, mas sua eleição é
uma prova de que o populismo de extrema direita se consolidou como um dos
atores centrais do ciclo político atual.
A ultradireita usa a mesma cartilha há uma década. Milei mostrou que políticos tradicionais ainda são incapazes de reagir às condições econômicas e sociais que favorecem essa plataforma, baseada em promessas de ruptura, planos milagrosos, uma comunicação agressiva e a demolição de identidades partidárias.
Além da ira contra o governismo e a crise
inflacionária, Milei prosperou especialmente nos redutos econômicos do novo
populismo de direita. Estima-se que ele tenha obtido mais de 60% dos
votos entre trabalhadores autônomos e uma vantagem larga entre empregados do
comércio e do setor de serviços.
Em certos grupos, Milei se aproveitou de um
sentimento vago de autossuficiência e de rejeição à proteção do Estado —o que
se refletiu também na influência reduzida dos sindicatos peronistas na votação.
Com variações de tom, seguiu a retórica da extrema direita de que um governo
grande só existe para distribuir e preservar privilégios.
A fúria contra essa máquina justificou um
voto econômico em Milei, mas também alimentou bandeiras antidemocráticas e
repressivas. Para o populismo de extrema direita, o fim da captura do Estado
depende de uma reação violenta.
A ideia de disrupção ainda seduziu eleitores
anteriormente afiliados a agentes de um campo político próximo. Milei criou uma
nova identidade que desbancou com facilidade a direita tradicional. No segundo
turno, ele herdou mais de 80% dos votos de Patricia
Bullrich.
Os capitães da velha direita, aliás,
impulsionaram um processo acelerado de normalização de Milei. Políticos,
investidores e outros observadores passaram a tratar o presidente eleito
como um sujeito
diferente do candidato que vociferava na campanha. Como tantos
outros populistas de direita, "El Loco" recebeu um voto de confiança
em tempo recorde.
Um comentário:
Ai que loucura!
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