Celso Ming
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
O mundo está agora cobrando o reforço dos controles sobre os bancos, como se o principal responsável pela crise fosse a insuficiência de controles sobre a atuação das instituições financeiras.
Esta coluna já vem chamando a atenção para uma limitação dos reforços de supervisão do sistema financeiro: a de que estão sendo feitos apenas localmente, sobre uma atividade que está cada vez mais globalizada.
É claro que é importante reforçar diques e muros de contenção ao longo das margens do rio para evitar os estragos provocados pela enchente. Mas essa providência será de longe insuficiente se as causas mais importantes não estiverem sendo atacadas.
Não basta combater as bolhas; é preciso acabar com os fatores que as vêm assoprando. O problema está no excesso de liquidez, o que se deve aos enormes desequilíbrios globais.
O principal diário de Economia e Negócios do mundo, o Wall Street Journal, trouxe domingo análise do ex-comissário de Comércio Exterior da União Europeia Peter Mandelson, que adverte para essa falha essencial no combate à crise.
O maior desequilíbrio global está em que os principais países ricos, especialmente os Estados Unidos, se dedicaram a consumir, enquanto um punhado de outros, sobretudo a China, se pôs a exportar produtos cada vez mais baratos e a acumular reservas. Elas foram aplicadas em títulos da dívida dos países ricos, notadamente em títulos do Tesouro dos Estados Unidos. A enorme demanda por títulos derrubou os juros de longo prazo, aquilo que em 2005 o então presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Alan Greenspan, chamou de conundrum (enigma).
Juros de longo prazo mais baixos, por sua vez, atiçaram não só o consumo dos Estados Unidos, mas também produziram a abundância de recursos que estimulou operações cada vez mais arriscadas dos bancos... até que a bolha estourou... e aqui chegamos.
Aumentar a regulação do mercado é providência necessária que deve ser aprofundada, desde que feita também globalmente e não só nos Estados Unidos. No entanto, nada está sendo providenciado para que os grandes desequilíbrios não se repitam.
Mandelson avisa que a única forma de reduzir esses desequilíbrios e, portanto, de evitar novas bolhas é garantir um sistema de governança global.
É provável que um dia haverá uma moeda global administrada por um banco central global. Mas, como tem dito o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, "isso levará muito, muito, tempo". Enquanto esse futuro não chega, os senhores do mundo terão de prover certa coordenação global de políticas.
Boa discussão está em saber em que círculo de decisões essa coordenação terá de ser feita. Até recentemente o organismo informal para exame de matérias assim era o Grupo dos Sete (G-7) países mais ricos (Estados Unidos, Alemanha, Japão, França, Inglaterra, Itália e Canadá) aos quais, a partir de 2006, se somou a Rússia, no agora G-8.
As duas mais importantes cúpulas de chefes de Estado destinadas a atacar coordenadamente a crise se fizeram no Grupo dos 20 (G-20), com a inclusão de outros países em desenvolvimento. Mas alguns observadores vêm insistindo em que, para garantir eficácia, o núcleo da coordenação deva restringir-se ao G-2 (Estados Unidos e China).
Mais pessimismo ? Nunca há uma só causa do solavanco dos mercados. Ontem, um dos principais fatores da alta do dólar foi o relatório do Banco Mundial que prevê queda do PIB global em 2009 de 2,9% e não de 1,7%, como saiu em março.
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
O mundo está agora cobrando o reforço dos controles sobre os bancos, como se o principal responsável pela crise fosse a insuficiência de controles sobre a atuação das instituições financeiras.
Esta coluna já vem chamando a atenção para uma limitação dos reforços de supervisão do sistema financeiro: a de que estão sendo feitos apenas localmente, sobre uma atividade que está cada vez mais globalizada.
É claro que é importante reforçar diques e muros de contenção ao longo das margens do rio para evitar os estragos provocados pela enchente. Mas essa providência será de longe insuficiente se as causas mais importantes não estiverem sendo atacadas.
Não basta combater as bolhas; é preciso acabar com os fatores que as vêm assoprando. O problema está no excesso de liquidez, o que se deve aos enormes desequilíbrios globais.
O principal diário de Economia e Negócios do mundo, o Wall Street Journal, trouxe domingo análise do ex-comissário de Comércio Exterior da União Europeia Peter Mandelson, que adverte para essa falha essencial no combate à crise.
O maior desequilíbrio global está em que os principais países ricos, especialmente os Estados Unidos, se dedicaram a consumir, enquanto um punhado de outros, sobretudo a China, se pôs a exportar produtos cada vez mais baratos e a acumular reservas. Elas foram aplicadas em títulos da dívida dos países ricos, notadamente em títulos do Tesouro dos Estados Unidos. A enorme demanda por títulos derrubou os juros de longo prazo, aquilo que em 2005 o então presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Alan Greenspan, chamou de conundrum (enigma).
Juros de longo prazo mais baixos, por sua vez, atiçaram não só o consumo dos Estados Unidos, mas também produziram a abundância de recursos que estimulou operações cada vez mais arriscadas dos bancos... até que a bolha estourou... e aqui chegamos.
Aumentar a regulação do mercado é providência necessária que deve ser aprofundada, desde que feita também globalmente e não só nos Estados Unidos. No entanto, nada está sendo providenciado para que os grandes desequilíbrios não se repitam.
Mandelson avisa que a única forma de reduzir esses desequilíbrios e, portanto, de evitar novas bolhas é garantir um sistema de governança global.
É provável que um dia haverá uma moeda global administrada por um banco central global. Mas, como tem dito o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, "isso levará muito, muito, tempo". Enquanto esse futuro não chega, os senhores do mundo terão de prover certa coordenação global de políticas.
Boa discussão está em saber em que círculo de decisões essa coordenação terá de ser feita. Até recentemente o organismo informal para exame de matérias assim era o Grupo dos Sete (G-7) países mais ricos (Estados Unidos, Alemanha, Japão, França, Inglaterra, Itália e Canadá) aos quais, a partir de 2006, se somou a Rússia, no agora G-8.
As duas mais importantes cúpulas de chefes de Estado destinadas a atacar coordenadamente a crise se fizeram no Grupo dos 20 (G-20), com a inclusão de outros países em desenvolvimento. Mas alguns observadores vêm insistindo em que, para garantir eficácia, o núcleo da coordenação deva restringir-se ao G-2 (Estados Unidos e China).
Mais pessimismo ? Nunca há uma só causa do solavanco dos mercados. Ontem, um dos principais fatores da alta do dólar foi o relatório do Banco Mundial que prevê queda do PIB global em 2009 de 2,9% e não de 1,7%, como saiu em março.
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