O epicentro da crise europeia está agora na Itália, cujo risco país equivale ao de Portugal e Irlanda quando foram resgatados. A pressão é para que Silvio Berlusconi dê lugar a um premiê que consiga aprovar medidas de austeridade. A Itália é a terceira maior economia da União Europeia
Crise europeia agora ameaça Berlusconi
Risco país da Itália se iguala ao de Grécia, Portugal e Irlanda às vésperas do resgate pela UE e primeiro-ministro perde maioria no Parlamento
Jamil Chade
ZURIQUE - Pela primeira vez, o risco país da Itália se equipara ao de Grécia, Portugal e Irlanda às vésperas de serem resgatados pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), no sinal mais claro até agora de que Roma está à beira do abismo.
Ontem, o epicentro da instabilidade europeia se consolidou na Itália e, um dia depois de o governo grego anunciar sua dissolução, é a vez de o governo de Silvio Berlusconi estar por um fio. Assim como ocorreu na Grécia, a pressão é para que o primeiro-ministro dê lugar a um governo que assuma a responsabilidade por aprovar as medidas de austeridade exigidas pela UE.
O temor de Bruxelas e dos mercados é de que um eventual sinal de quebra da Itália tenha repercussão muito maior do que a turbulência criada pela Grécia. Afinal, enquanto Atenas representa apenas 2% da economia da UE, a Itália é a terceira maior economia do bloco.
Ontem, a taxa de juros cobrada pelos papéis da dívida soberana italiana chegou a 6,63% durante o dia, bem mais alto que os 4,5% de alguns meses atrás. Com uma dívida de 1,9 trilhão, a taxa encarece a rolagem da dívida italiana e praticamente fecha o acesso a créditos no mercado.
O que preocupa é que, se essa taxa for mantida por vários dias, a capacidade da Itália de conseguir financiamento pode ser durante afetada. Segundo o jornal New York Times, Roma terá de rolar 30,5 bilhões em novembro e 22,5 bilhões, citando a Daiwa Securities. Para reduzir essa taxa, o governo teria de demonstrar que está implementando as reformas e as medidas de austeridade exigidas pela UE.
O problema é que, fragilizado internamente, Berlusconi não vislumbra uma saída. O chefe do governo italiano perdeu a maioria parlamentar no momento que se prepara para votar hoje o orçamento para 2012 e quando a UE pressiona pelas medidas. Ontem, rumores da demissão de Berlusconi impactaram os mercados e, na Itália, a bolsa chegou a subir com a notícia.
Facebook. Pelo menos dois jornais italianos davam como certa a queda de Berlusconi, depois que mais seis parlamentares da base aliada anunciaram seu afastamento da coalizão que governa o país. Outros 20 estariam considerando abandoná-lo.
Mas todo o esforço do premiê italiano ontem foi concentrado em desmentir os rumores, acusando-os de "infundados". Berlusconi chegou a usar Facebook e outras redes sociais para garantir que continuava no poder, sem nenhum resultado nos mercados. "Não entendo como esses rumores circulam", insistiu.
Hoje, porém, o teste político do primeiro-ministro pode ser o maior nos últimos meses. Se o orçamento for recusado, Berlusconi pode ser obrigado a pedir demissão. Ontem, ele fazia ameaças. "Quero ver na cara quem vai me trair." Para a imprensa italiana, há traidores suficientes para derrubar o governo.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
Nenhum comentário:
Postar um comentário