terça-feira, 8 de novembro de 2011

Denúncia de propina atinge Agnelo

Alvo de inquérito sobre irregularidades em sua gestão no Ministério do Esporte, o governador do DF, Agnelo Queiroz (ex-PCdoB, hoje no PT), agora é citado em outra denúncia: a deputada distrital Celina Leão (PSD) o acusa de ter recebido R$ 50 mil em propina quando era diretor da Anvisa. A deputada se baseia no depoimento gravado de Daniel Almeida Tavares, ex-funcionário do laboratório União Química, que apresentou recibo de um depósito de R$ 5 mil na conta de Agnelo em janeiro de 2008. O governador nega e diz que emprestou o dinheiro a Daniel por sua amizade com o dono da empresa. O proprietário da União Química negou o pagamento de propina, mas informou desconhecer o empréstimo. Celina Leão anunciou que o rapaz daria depoimento público sobre o caso, mas ele não apareceu.

Agnelo agora é acusado de receber propina

Segundo ex-funcionário de laboratório, governador do DF teria recebido R$50 mil quando era diretor da Anvisa

Evandro Éboli

BRASÍLIA. A deputada distrital Celina Leão (PSD-DF), da oposição, acusou ontem o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), de ter recebido propina quando era diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A acusação é baseada num depoimento gravado de Daniel Almeida Tavares, ex-funcionário de um laboratório farmacêutico, que apresentou recibo de um depósito de R$5 mil na conta de Agnelo. Ao negar envolvimento em cobrança de propina, o governador disse que emprestou essa quantia a Daniel por sua amizade com os donos da empresa farmacêutica. Agnelo já responde a inquérito no Superior Tribunal de Justiça (STJ) por irregularidades quando era ministro do Esporte.

Celina chegou a anunciar que Daniel daria um depoimento público ontem relatando detalhes do suposto esquema de propina de Agnelo na Anvisa. Na hora marcada, ele não apareceu, e seu advogado disse que o cliente teve um problema repentino de saúde. A deputada deverá apresentar hoje o vídeo com depoimento de quase uma hora que colheu de Daniel.

Agnelo teria recebido ainda R$45 mil em dinheiro

À deputada, Daniel teria contado que fez vários pagamentos para Agnelo na condição de representante da União Química, onde trabalhou até 2009. Recentemente, Daniel ocupava um cargo na Administração de Brasília, órgão vinculado ao governo do DF, mas foi demitido.

Na Anvisa, Agnelo era responsável pela liberação de licenças de funcionamento de laboratórios. Trabalhou ali de 2007 a 2010, quando deixou a agência para disputar o governo do DF.

Os R$5 mil foram depositados na conta de Agnelo em janeiro de 2008. Segundo Celina, o governador teria recebido ainda R$45 mil de Daniel no subsolo da residência do petista, onde haveria uma biblioteca. A parlamentar afirmou que o dinheiro seria para que Agnelo liberasse documentos para permitir o funcionamento de unidade da União Química e também a participação do laboratório numa licitação. Celina afirmou ainda que Daniel não tinha certeza do montante supostamente repassado a Agnelo ao longo desses anos:

- O Daniel não tinha certeza. Era de R$200 mil a R$300 mil.

Daniel deixou a União Química e até recentemente trabalhava na Administração de Brasília. Deixou o emprego, segundo Celina, porque vinha sofrendo ameaças.

Agnelo Queiroz negou recebimento de propina e disse que se trata de uma tentativa da oposição de construir algo que o relacione a irregularidades. Sobre os R$5 mil, a defesa do governador foi feita por nota:

"Em relação ao referido depósito, Agnelo Queiroz se recorda que foi a devolução de uma quantia concedida em empréstimo à referida pessoa (Daniel Almeida) realizada de forma transparente. Associar esse depósito a uma origem irregular é mais uma tentativa criminosa de acusação vazia contra Agnelo Queiroz. Não é crível que este receberia algo irregular em sua conta corrente."

Em outra nota, a assessoria do governador explicou a razão do empréstimo. "Daniel era conhecido de Agnelo Queiroz em decorrência da amizade, de mais de 20 anos, entre Agnelo e Fernando de Castro Marques (dono da empresa). Uma amizade que vem desde a época em que Agnelo Queiroz era deputado federal - eles se aproximaram na campanha em defesa da indústria farmacêutica nacional, como é de conhecimento público."

Fernando Marques afirmou, por meio da assessoria da empresa, que não tinha conhecimento do empréstimo feito por Agnelo ao antigo funcionário da União Química. "Informo que nem o Sr. Fernando de Castro Marques e nem a empresa têm conhecimento desse assunto."

Sobre o suposto pagamento de propina feito pela empresa a Agnelo, a União Química negou: "Informo ser totalmente improcedente qualquer denúncia feita por essa pessoa."

A empresa informou ainda que Daniel foi demitido em novembro de 2009. Ele teria tentado retornar judicialmente, mas não conseguiu. A União Química tem 75 anos de fundação e emprega cerca de dois mil funcionários. O seu faturamento em 2011 deve superar R$500 milhões.

Na campanha eleitoral de 2010, a empresa doou cerca de R$2,2 milhões a 17 candidatos e vários partidos. Agnelo recebeu R$200 mil, segundo maior valor doado a um candidato. A candidatura de Dilma Rousseff (PT) recebeu R$457 mil e a de Geraldo Alckmin (PSDB), ao governo paulista, R$490 mil.

FONTE: O GLOBO

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