Diretoria da Petrobrás é cobiçada pelo PMDB
Área Internacional era ocupada pelo partido e está vaga desde abril de 2012
Sabrina Valle, Sergio Torres
RIO - A diretoria internacional da Petrobrás é alvo de uma disputa política até agora silenciosa entre a presidência da estatal e o PMDB. A pasta era ocupada pelo partido e está informalmente vaga desde abril de 2012, quando a presidente Maria das Graças Foster afastou três diretores que chegaram aos cargos por indicação política.
Depois das eleições no início do mês para as presidências da Câmara e do Senado, vencidas pelo PMDB com larga vantagem, intensificaram-se as pressões para que o cargo seja preenchido por um indicado do partido. Também duas diretorias da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), vagas desde o ano passado, são cobiçadas pelo grupo de peemedebistas vitoriosos.
Graça Foster acumula a presidência e o comando da Direto¬ria Internacional desde julho. Ela acompanha pessoalmente as vendas de blocos exploratórios que a Petrobrás controla no Golfo do México e na África. A venda de ativos no exterior foi apresentada esta semana como uma das poucas alternativas de alívio ao caixa da companhia.
De acordo com o planejamento da estatal, desses blocos sairão preciosos bilhões de dólares que a ajudarão a "passar por 2013, um ano que será muito difícil", como disse Graça em entrevista na terça-feira.
Apesar do alarmante cresci¬mento do endividamento e do fraco resultado do quarto trimestre, a Petrobrás não reduziu o ritmo de investimentos. Pelo contrário, anunciou alta de 16%, para concluir projetos em curso. Serão R$ 97,7 bilhões neste ano.
Sem autorização do governo para reajustar combustíveis, e negando planos para uma nova capitalização, a venda dos ativos no exterior é uma alternativa citada pela presidente para gerar receita já com data marcada. Uma espécie de processo de leilão de blocos, anunciou Graça, se inicia em abril.
Acelerar o urgente processo de venda dos blocos, mais de um semestre atrasado, não foi o único motivo para Graça permanecer à frente da diretoria internacional. Sua presença no topo hierárquico da diretoria tem o objetivo de evitar, o máximo possível, a posse de apadrinhados políticos.
Em 2012, durante o processo inicial de negociações e repudiando os primeiros assédios, a executiva condicionou aceitar a indicação política desde que mantivesse sob seu controle as diretorias responsáveis pela execução dos projetos.
Enquanto a questão vinha sendo protelada pelo governo, ela aproveitou a falta de definição para trocar a equipe, com respaldo da presidente Dilma Rousseff: extinguiu uma diretoria executiva e trocou os titulares de todas as outras quatro.
A diretoria internacional está envolvida em um processo polêmico. Os negócios da divisão ocorrem no exterior e não passam previamente pelo crivo do Tribunal de Contas da União (TCU).
Foi o que ocorreu com a refinaria de Pasadena (Estados Unidos), comprada pela Petrobrás por preço dez vezes superior ao seu valor de mercado, numa operação revelada pela Broadcast serviço noticioso de tempo real da Agência Estado e hoje investigada pelo TCU, pelo Ministério Público Federal e até pelo Congresso Nacional.
ANP. Outra disputa velada que acontece no setor governamental do petróleo movimenta a diretoria da ANP. Durante os oito anos de gestão do ex-deputado federal Haroldo Lima, seu partido, o PC do B, ocupou os principais cargos da agência.
A substituição do diretor-geral Lima no ano passado pela então diretora Magda Chambriard, profissional egressa do quadro de engenheiros da Petrobrás, resultou no afastamento de comunistas da ANP.
As pressões políticas para a nomeação de indicados pelo PMDB ocorrem desde o ano passado. Magda e dois diretores (Helder Queiroz e Florival Carvalho) permaneceram nos cargos e houve resistência da cúpula da ANP para aceitar as nomeações políticas.
Com a eleição de Renan Calheiros (AL) para a presidência do Senado, Henrique Alves (RN) para a presidência da Câmara e Eduardo Cunha para liderar a bancada de deputados federais do PMDB, o quadro pode mudar.
Na avaliação de especialistas, o governo Dilma pode ceder os cargos aos peemedebistas em troca de apoio no Congresso, cada vez mais necessário neste 2013 que antecede o :ano de eleição presidencial.
Na ANP, o superintendente de Segurança Operacional e Meio Ambiente, Raphael Moura, é apontado como o preferido de Magda para uma das diretorias. É um profissional da área de petróleo, sem vinculação partidária.
Para a outra vaga na direção, o cotado é o superintendente de Participações Governamentais, José Gutman, outro quadro técnico.
Na defesa de seus preferidos Magda argumenta que precisa de diretores que trabalhem em harmonia com a equipe atual, o que poderá não ocorrer com a chegada de dirigentes respalda¬dos por uma escolha política.
Procurados pelo Estado, nem a Petrobrás nem a ANP se manifestaram sobre as pressões políticas para o preenchimentos dos cargos de diretoria que se encontram vagos.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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