Dilma Rousseff, Aécio Neves e Eduardo Campos, prováveis protagonistas da corrida pelo Planalto em 2014, contam com seletos grupos de consultores, que incluem ex-presidentes da República e economistas de renome
Paulo de Tarso Lyra
Presidentes e ex-presidentes são unânimes em afirmar que o exercício do poder é solitário. Isolados no gabinete presidencial, os donos da cadeira são obrigados a tomar decisões que afetam a vida de milhares de brasileiros. Mas até que chegue esse momento, ocorrem muitas reuniões, consultas e conversas, além da contribuição da própria bagagem intelectual, acumulada ao longo dos anos anteriores à chegada ao Planalto. Embora a decisão final seja sempre pessoal, tanto a atual presidente, Dilma Rousseff quanto os seus possíveis concorrentes no ano que vem — Aécio Neves (PSDB-MG) e Eduardo Campos (PSB-PE) — têm seus formadores de opinião e colegas preferenciais para a troca de ideias.
Embalada com o rótulo de gestora, a presidente Dilma Rousseff mantém no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva o principal interlocutor político. Mensalmente, eles se reúnem para avaliar os rumos políticos do governo, as relações com a base aliada e o que pode ser feito para melhorar a gestão. As conversas por telefone são ainda mais frequentes. Lula toma o cuidado para não melindrar Dilma e evitar uma intromissão indevida, embora em diversos momentos os palpites dados por ele tenham extrapolado os limites do bom senso para quem está fora da administração federal.
Formada em economia, Dilma tem controle maior sobre o assunto. Palpita e conduz os debates com mais propriedade que Lula, o que torna, sem dúvida, a vida do principal interlocutor, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, bem mais difícil. Dilma exige explicações diárias e, até hoje, não engoliu o péssimo resultado do Produto Interno Bruto (PIB) de 2012, que depois das promessas de 4%, mal deve chegar a 1%. O economista Delfim Neto, por outro lado, tão influente na gestão Lula, perdeu prestígio no atual governo. Continua sendo consultado, mas deixou de ser decisivo.
No governo, dois ministros ganharam status de consultores múltiplos da presidente: o titular do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), Fernando Pimentel, e o ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Não são raras as vezes em que ambos viajam com a presidente ou são chamados ao Palácio do Planalto para emitir opinião sobre assuntos que não estão diretamente ligados às suas respectivas áreas.
No campo internacional, os dois anos de mandato de Dilma foram suficientes para resgatar o assessor especial para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia. Muito atuante durante o governo Lula, perdeu espaço no início do atual governo, fruto do distanciamento que a presidente adotou em relação a incômodos parceiros, como o Irã, a Venezuela e a Bolívia. Mas, nos últimos meses, com a crise deflagrada a partir da saída do Paraguai do Mercosul, Marco Aurélio voltou a ser referência no Planalto, tendo participado, inclusive, da viagem presidencial à Rússia e à França em dezembro de 2012.
Oposição
O senador Aécio Neves (PSDB-MG), de olho na elaboração de uma proposta econômica alternativa ao modelo adotado pelo PT nos últimos 10 anos, intensificou, em 2012, as reuniões com os formuladores do Plano Real, responsáveis pelo controle da inflação e pelo êxito do PSDB nas eleições presidenciais de 1994 e 1998. Desse grupo, fazem parte os economistas Pérsio Arida, André Lara Rezende e Edmar Bacha, os três do Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças (IEPE/CdG), no Rio de Janeiro, e pensadores da Pontifícia Universidade Católica carioca (PUC-RJ). Foram agregados ainda o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan e o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga.
Os mineiros costumam dizer que Aécio Neves tem a política no sangue e no DNA. Neto de Tancredo Neves, acompanhou de perto a eleição do avô pelo colégio eleitoral do Congresso, em 1985, bem como a agonia que culminou na morte por complicações abdominais, em 21 de abril daquele ano, do primeiro presidente após o fim do regime militar. E não abdica de conversas ao pé do ouvido com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que o estimulou a retomar as conversas com os economistas tucanos. No plano internacional, os formadores de opinião preferidos por Aécio são os ex-ministros das Relações Exteriores de FHC Celso Lafer e Sérgio Amaral, e o embaixador Rubens Barbosa.
Outro que bebe da fonte familiar é o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Neto de Miguel Arraes, um dos ícones do combate ao regime militar, adotou o pensamento do avô como algo estrutural em sua formação. Mas o próprio Arraes, que escolheu o neto para integrar o seu governo em 1994, pontuava as diferenças entre ambos. "Eu nasci em 1916, no sertão do Ceará. Ele nasceu em 1965, no Recife. É claro que somos diferentes", resumia ele. Eduardo resgatou práticas que, na época da gestões do avô, eram consideradas limitadas e tacanhas, como o microcrédito e as bolsas assistenciais para ajudar no combate à pobreza. Adotou, entretanto, um discurso de gestão voltado para o empresariado, inimaginável na cartilha política de Miguel Arraes.
No campo econômico, Campos gaba-se de consultar um amplo espectro de economistas, que incluem o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, o ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Carlos Lessa e o atual, Luciano Coutinho, além da ex-economista da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) Tânia Bacelar. No entanto, o presidente do PSB garante que não é influenciável. "Eduardo é cioso de sua liberdade de pensamento. Não gosta nem de marqueteiros para moldar suas ideias", declarou um interlocutor do governador pernambucano.
Fonte: Correio Braziliense
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