Governador de Pernambuco age para que seu partido apoie reeleição de governador tucano e isole petistas na sucessão do ano que vem
Pedro Venceslau, Ricardo Chapola
A aproximação política do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e do senador mineiro Aécio Neves (PSDB), potenciais adversários de Dilma Rousseff na corrida presidencial de 2014, já prevê uma tática de isolamento do PT na disputa pelo governo paulista. A dupla trabalha para que seus partidos estejam juntos nos Estados onde o cenário local mostra uma conjuntura viável, e São Paulo é um dos pilares dessa estratégia.
O diálogo nacional acelerou a aproximação dos tucanos com o PSB no Estado de São Paulo. O partido de Campos sinaliza apoio à reeleição do tucano Geraldo Alckmin e mostra interesse pela vaga de vice na chapa. Apesar de integrar o primeiro escalão do governo paulista desde a gestão de Mário Covas, o PSB nunca apoiou o PSDB nas disputas eleitorais. Alckmin já dá como certo o apoio do DEM, PTB, PPS, PRB e PSC, e negocia com PP e PR. Como PMDB, PSD, PDT e PV devem lançar candidatos próprios, restam poucas alternativas de aliança para os petistas no Estado. O PSB conta com 1m10s nas inserções de rádio e TV.
Um dos principais interlocutores de Eduardo Campos no Congresso e presidente do PSB mineiro, deputado Julio Delgado, disse esperar que seu partido e o PSDB estejam juntos em pelo menos três Estados estratégicos no ano que vem. "A peculiaridade de Minas (onde os dois partidos estão juntos) é a mesma de Pernambuco. A gente também tem essa preocupação com São Paulo, que é o Estado mais importante nesse contexto", disse o parlamentar ontem à Rádio Estadão. Aliados de Aécio dizem que o acordo seria bom para o senador e melhor ainda para Campos, pois fortaleceria um palanque local de oposição a Dilma. No primeiro turno, os dois presidenciáveis fariam campanhas separadas no Estado, mas, no segundo, estariam unidos contra a petista.
Vice cobiçada. O presidente do PSB paulista, Márcio França, reuniu-se na semana passada com o deputado Duarte Nogueira, dirigente do PSDB no Estado, e pediu que os socialistas indicassem o candidato a vice na chapa de Alckmin. França é hoje um interlocutor frequente do governador e faz parte do núcleo político do Palácio dos Bandeirantes e ele mesmo pleiteia essa vaga. O problema é que outras siglas têm a mesma demanda. "O PTB vai reivindicar o cargo de vice. Somos o partido mais consistente da aliança", afirmou o presidente do PTB paulista, o deputado estadual Campos Machado.
Aliado de Alckmin no interior de São Paulo, o prefeito de Campinas, Jonas Donizete (PSB), disse que uma eventual aliança do governador com os socialistas daria um "tempero" que a chapa tucana nunca teve no Estado. "O Márcio França agregaria algo novo na candidatura de Alckmin", disse Donizete.
Lideres do PSB acreditam que a composição "ganharia a sua parte de esquerda", o que poderia atrair um eleitor mais resistente a votar no PSDB. O PSB paulista, em especial na capital, tem histórico de aliado do PT.
Erundina. Outra alternativa ventilada por setores do PSB é lançar uma candidatura própria ao governo. Isso daria um palanque mais consistente para Eduardo Campos em São Paulo. Dois nomes têm força dentro do partido, caso seja essa a escolha dos dirigentes socialistas: a deputada Luiza Erundina, que deve coordenar a campanha de Campos em são Paulo, ou o próprio Márcio França.
Segundo um membro da executiva estadual do PSB, Erundina, que é egressa do PT e foi prefeita da capital paulista, tem mais "consistência eleitoral" do que França. A cúpula do PSB paulista pretende fazer uma reunião com os diretórios municipais do Estado para sentir a reação da aproximação com Alckmin. Caso isso ocorra, o PSB estuda lançar a candidatura em voo solo na disputa pelo governo.
A estratégia do PSB em São Paulo segue à risca o que disse Julio Delgado sobre a costura dos palanques de oposição a Dilma no País. Se houver uma decisão favorável a candidaturas estaduais próprias, PSDB e PSB trabalhariam separadamente no Estado, mas respeitando um pacto de não agressão. No entanto, na esfera federal, em eventual segundo turno, as siglas se aliariam de vez, apoiando quem fosse para o embate com a petista.
"Acho que temos condição de pensarmos num palanque comum, ou em pacto de não agressão, se tivermos dois palanques", afirmou Delgado. Segundo o deputado mineiro, em algum momento Aécio e Campos se unirão contra a candidatura da presidente.
"A máxima é verdadeira para os dois: tanto o Eduardo quer ter uma boa votação em Pernambuco e no Nordeste. Mas ele sabe que não terá unanimidade, o que vai obrigá-lo a deixar espaço para uma outra candidatura que não seja da presidente Dilma. Assim também é para Aécio", completou.
Delgado assumiu a presidência do PSB em Minas com a missão de viabilizar um palanque no Estado, segundo maior colégio eleitoral do País, para Eduardo Campos, se ele for mesmo candidato à Presidência.
Ele tomou o lugar do ex-ministro Walfrido Mares Guia, amigo pessoal do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que declara abertamente apoio à reeleição de Dilma Rousseff.
Pacto à vista
"Acho que temos condição de pensar num palanque comum, ou em pacto de não agressão, se tivermos dois palanques"
"A peculiaridade de Minas é a mesma de Pernambuco. A gente também tem essa preocupação com São Paulo, que é o Estado mais importante nesse contexto"
Julio Delgado
Deputado Federal (PSB-MG)
Fonte: O Estado de S. Paulo
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