Um dia após erro da prefeitura deixar o Papa Francisco engarrafado na Avenida Presidente Vargas na chegada ao Rio, o que alarmou responsáveis pela segurança do Pontífice, ontem peregrinos e cariocas sofreram com uma pane no metrô, que ficou parado por mais de duas horas. Passageiros chegaram atrasados ou tiveram de se espremer em ônibus para chegar à missa de abertura da Jornada Mundial da Juventude, em Copacabana. Visitantes também se queixam dos ônibus, cujos pontos não informam rotas e horários de chegada de veículos. Na saída da missa, à noite, o trânsito voltou a ficar caótico. O secretário municipal de Transportes, Carlos Roberto Osório, disse que o dia não será melhor hoje, já que o Vaticano mantém em sigilo o roteiro da visita do Papa a um hospital na Tijuca
Via crucis para ir à missa
Pane de mais de 2 horas no metrô atrapalha ida para abertura da jornada e volta do trabalho
Fabíola Gerbase
Confusão. Policial militar ajuda na devolução de bilhetes para peregrinos e demais passageiros que não conseguiram embarcar na estação Uruguaiana, no Centro, após a paralisação do metrô: falta de informação provocou reclamações
Depois de o Papa Francisco ter ficado preso num engarrafamento na Avenida Presidente Vargas quando fazia seu primeiro percurso no Rio, ontem foi a vez de o metrô decepcionar no quesito transporte na Jornada Mundial da Juventude. Como já virou rotina para os cariocas, no primeiro dia do evento, em que o metrô recebeu verdadeiras procissões de peregrinos a caminho da missa de abertura da JMJ em Copacabana, o sistema de transporte sofreu uma pane e ficou parado por mais de duas horas. O rompimento de um cabo de energia na altura da estação Uruguaiana levou à interrupção do serviço das 16h19m às 18h32m e criou um cenário caótico nas várias estações das linhas 1 e 2. Tumulto na devolução de bilhetes de embarque, acessos lotados e debandada em busca de pontos de ônibus foram alguns dos efeitos da paralisação do metrô.
Sem conseguir embarcar na Uruguaiana rumo a Copacabana, por volta das 17h25m, um grupo de sete peregrinos do Paraná decidiu andar em direção à estação da Glória, onde, até aquele momento, o serviço estava funcionando. Eles foram caminhando pelo Centro tendo a mineira Teresa Cristina de Almeida como guia. Mal sabiam que pouco depois, entre 17h30m e 17h40m, toda a Linha 1 seria fechada. Antes disso, apenas o trecho da Central ao Catete estava sem funcionar. Ainda antes das 18h, a Linha 2 também parou.
Já um grupo de alemães teve mais sorte: eles chegaram à Uruguaiana logo antes da reabertura da estação, que ocorreu às 18h48m. Quando eles começavam a deixar o local para tentar pegar um ônibus até Copacabana, o portão foi reaberto pelos seguranças.
- Ontem usamos o metrô e não tivemos problema. Hoje ficamos meio perdidos - disse Florian Böck, de 21 anos.
Essa, aliás, era a principal expressão estampada no rosto dos peregrinos que deixavam a estação. Uns poucos seguranças do metrô e policiais militares tentavam dar conta das perguntas de centenas de passageiros sobre o que estava causando o problema, quando o serviço voltaria a funcionar e que ônibus poderiam pegar para sair dali. Com um megafone, um segurança anunciou que o metrô sofrera uma pane elétrica e que não havia previsão para a reabertura. Depois disso, as informações voltaram a ser dadas na base do grito.
Tumulto na devolução de bilhetes
Em alguns momentos, houve bate-boca entre seguranças e passageiros que se aglomeravam fora da estação. Dentro do espaço, o principal tumulto aconteceu no momento em que foi anunciado pelos alto-falantes que os passageiros poderiam pegar um tíquete de devolução para usar em outro dia. Houve empurra-empurra, e policiais militares ajudaram na distribuição dos bilhetes. Pelo menos três pessoas passaram mal. Uma mulher que estaria grávida desmaiou e foi carregada por um bombeiro e dois PMs. A porta de vidro da sala dos seguranças acabou quebrada na confusão.
O gerente comercial Sidney Santos estava dentro do trem parado na plataforma da estação Uruguaiana no momento do problema. Segundo ele, foi possível ouvir uma pequena explosão. Outros passageiros relataram ter visto faíscas sob a composição.
- É um absurdo. Ficamos uma hora esperando no trem sem receber qualquer informação. Só então vieram nos informar que o metrô não ia mais funcionar. Não sei como farei para ir para casa. Só Deus sabe. É uma vergonha - disse Sidney, após sair da estação.
Muitos outros passageiros decidiram esperar pelo retorno do serviço, até mesmo dentro do trem, apesar dos pedidos de evacuação da estação. Foi o caso da auxiliar administrativa Márcia Veloso:
- Estava indo embarcar e ouvi um estouro. Depois disseram que havia uma pane geral. Decidi esperar porque para ir de ônibus até Irajá demoro umas três horas. De metrô gasto meia hora.
Para o estudante Sergio Henrique Mendes, que pretendia embarcar rumo a Maria da Graça, o pior foi ficar esperando sem receber uma explicação mais precisa:
- A gente não recebe qualquer satisfação, nem uma previsão para poder se planejar. Ficamos sem saber o que fazer. Como a cidade recebe um evento desse tamanho, com a presença do Papa, com essa total falta de condições?
Também impedido de entrar na estação, Antonio Carlos Regalado, dono de uma agência de turismo, criticou o serviço:
- Está claro que não deram conta do movimento da jornada. Eles já não dão conta em dia normal, né?
Em nota, a Metrô Rio informou que a "energia das linhas 1 e 2 foi interrompida para que as equipes de manutenção trabalhassem em segurança". O trem que estava parado na estação Uruguaiana na hora do problema elétrico foi danificado e precisou ser empurrado por outra composição até o centro de manutenção depois que os trilhos voltaram a ser energizados. A assessoria de imprensa da concessionária informou, ainda, que uma avaliação mais detalhada da pane no sistema seria feita na madrugada de hoje, após o encerramento do serviço. A Metrô Rio negou que tenha havido explosão, estouro ou faíscas na estação Uruguaiana.
Problemas também na volta
Os trens voltaram a circular sem parar na estação Cardeal Arcoverde, em Copacabana (uma das mais usadas pelos peregrinos), no sentido Zona Sul. De acordo com a assessoria da concessionária, a parada acontecia apenas no sentido Centro e a medida era parte do planejamento especial para a jornada. A Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos de Transportes do Estado do Rio (Agetransp) abriu um boletim de ocorrência para apurar a paralisação do metrô. Hoje pode voltar a haver problemas, já que a prefeitura diz desconhecer os roteiros do Papa.
No fim da missa em Copacabana, os fiéis enfrentaram mais problemas. Os ônibus estavam lotados e o metrô também. Além disso, taxistas cobravam a corrida "no tiro". Devido ao excesso de pessoas, os acessos ao bairro foram fechados pela prefeitura. Depois de aproximadamente 30 minutos, eles foram finalmente liberados por agentes da CET-Rio.
Fonte: O Globo
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