Diretórios do PMDB em seis estados querem forçar o partido a realizar uma convenção para impor condições de apoio a Dilma na eleição de 2014
PMDB questiona aliança
Diretórios do partido defendem pré-convenção para definir condições de apoio a Dilma
Insatisfeitos com o rumo das negociações com o PT sobre as eleições do ano que vem, seis importantes diretórios estaduais do PMDB deram início a um movimento para forçar a realização de uma pré-convenção do partido, em março, na qual seriam colocadas claramente as condicionantes para o partido apoiar oficialmente a reeleição da presidente Dilma Rousseff. A proposta de uma convenção nacional extraordinária seria formalizada ontem à noite em um jantar na residência oficial do vice-presidente Michel Temer; mas o encontro acabou sendo abortado. Ainda assim, o assunto deve ser apresentado formalmente à cúpula do partido nas próximas semanas. A realização da pré-convenção é a primeira ameaça efetiva ao apoio formal do PMDB a Dilma em 2014.
O objetivo do grupo, formado por representantes de Rio, Ceará, Bahia, Maranhão, Paraná e Rio Grande do Sul, entre outros, é pressionar o PT a definir claramente até março suas opções eleitorais nos estados mais importantes para os peemedebistas. Os diretórios dos seis estados citados têm peso relevante na convenção nacional do partido, com votos suficientes para impedir a aliança formal se assim desejarem. Entre outros prejuízos, sem uma aliança formal, a campanha da reeleição perderia os preciosos dois minutos e 18 segundos que o PMDB tem na propaganda eleitoral — de um total de cerca de 12 minutos que Dilma deverá ter.
Os dirigentes do PMDB nesses estados enfrentam problemas graves nas negociações com o PT. A pré-convenção seria uma forma de forçar mudanças de posição dos petistas. O caso mais emblemático é o do Rio, maior estado governado pelo PMDB, onde os petistas decidiram lançar o senador Lindbergh Farias como candidato contra Luiz Fernando Pezão, o candidato do governador Sérgio Cabral.
— Queremos antecipar o processo para resolver logo. Assim, se percebermos que não somos parte de uma aliança, podemos tocar nossa vida — afirmou o líder do partido na Câmara, Eduardo Cunha, que levou o assunto a Temer na segunda-feira.
A ala do partido mais próxima ao vice Michel Temer, e que integra estados onde PT e PMDB já se entenderam, tenta evitar a antecipação dessa decisão — a legislação eleitoral exige que as convenções oficiais dos partidos ocorram em junho do ano da eleição. A ideia é manter apenas a convenção formal, porque, ainda que haja rusgas no período das convenções, a margem de manobra para se mudar de lado é pequena.
Caso haja uma pré-convenção em março, e seu resultado sinalize claramente um risco à aliança nacional, os peemedebistas teriam dois meses a mais para se articularem com outras candidaturas presidenciais. O objetivo é mesmo obrigar o PT a antecipar seu posicionamento nos estados.
— A pré-convenção é fruto da insatisfação de vários diretórios do PMDB com a falta de acordos nos estados. O PT, mesmo tendo a cabeça de chapa na Presidência, insiste em fazer uma política de hegemonia nos estados, o que implicará na redução da bancada de deputados do PMDB, que historicamente tem sua força no Congresso — explica o deputado Lúcio Vieira Lima, cacique do diretório baiano da legenda.
Na Bahia, o PMDB integra a oposição aberta ao governo do petista Iaques Wagner. Mas o maior problema hoje são três estados onde PT e PMDB marcharam juntos nas últimas eleições: além do Rio, Maranhão e Ceará. Neste último, o PT se debate entre o candidato do governador e fiel aliado Cid Gomes (PROS), que rompeu com o PSB de Eduardo Campos em nome do apoio a Dilma, e a aliança com o senador Eunício Oliveira, líder do PMDB local e também candidato ao governo.
— Acho que vai ter um entendimento em relação à realização da pré-convenção. Não é nada contra a Dilma, mas vamos antecipar porque precisamos ajustar os estados — explicou Eunício.
No Maranhão, o problema é semelhante. O ex-presidente José Sarney pressiona a direção nacional do PT a apoiar o candidato de seu grupo político no estado, mas o diretório local petista defende o apoio ao ex-deputado Flávio Di-no (PCdoB), que lidera a corrida pela sucessão de Roseana Sarney.
Para completar, nas últimas semanas surgiu mais um problema em outro diretório decisivo para os peemedebistas: Alagoas. O PP pediu a Dilma que apoie a candidatura do senador Benedito Lira ao governo, provavelmente contra o filho do senador Renan Calheiros (PMDB). Um dirigente do PMDB fez um alerta ontem em direção ao ex-presidente Lula:
— O Lula sabe bem quem tem voto no partido e sabe que, para a aliança nacional sair, é preciso apoiar nos estados dos "donos do PMDB": Sarney, Renan, Eunício, Jáder (Barbalho) e resolver o Rio de Janeiro.
Na saída de um evento ontem, o vice-presidente minimizou a existência de impasses.
— Não há impasse, na verdade o que estamos fazendo agora são conversas políticas em todos os estados. Temos que fazer as mais variadas composições, mas essas conversas não nascem de um impasse mas de ajustamentos naturais que são feitos na pré-campanha eleitoral. Não tenho duvida que isso acabará se harmonizando — afirmou Temer, chancelando a avaliação da presidente Dilma de que a relação do PMDB com o PT tem flutuações: — Flutuações são mais do que saudáveis, enquanto está flutuando é porque está se ajustando. Então, não há problema nenhum em relação a isso. Há, evidentemente, manifestações dessa ou daquela natureza que, como disse, são mais do que normais. Acho que qualquer dificuldade será solucionada.
Fonte: O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário