Escrevo neste domingo de Nova York, onde estou para proferir palestra a investidores internacionais interessados nas oportunidades e nos potenciais da América Latina.
Por aqui ainda repercute a decisão da Moody's, uma das principais agências globais de classificação de risco do mundo, de piorar a perspectiva da dívida pública brasileira de "positiva" para "estável".
O mais grave é que a decisão ocorre pouco mais de quatro meses após a Standard & Poor's, outra grande agência de classificação de risco, ter rebaixado a perspectiva de "estável" para "negativa".
A Moody's foi mais longe ao também rebaixar a nota da Petrobras, exatamente no dia em que ela comemorava 60 anos de fundação, mergulhada na maior crise de sua história.
Antes que venham as desculpas oficiais de sempre, denunciando "conspirações" contra o governo e o PT, convém examinar as razões apresentadas pelas agências.
Elas apontam como causa principal a crescente deterioração das contas públicas brasileiras, geridas sem compromisso com a austeridade e a qualidade dos gastos públicos.
Também se preocupam com o crescimento pequeno da economia após 2010 e especialmente com as manobras fiscais das quais o governo se utiliza para tentar fechar suas contas. É a chamada contabilidade criativa, cuja face mais visível é a promíscua relação entre o Tesouro Nacional e os bancos públicos.
A desconfiança dos brasileiros, expressa nos diversos índices que medem o ânimo de empresários e de consumidores, alcança os investidores internacionais, que se afastam do país devido também à incerteza dos marcos regulatórios, como mostram as dificuldades dos leilões de concessões para estradas e exploração do petróleo do pré-sal.
A revista "The Economist" trouxe importante reportagem em que ampliou, para público que ultrapassa o círculo fechado dos especialistas, os questionamentos sobre as dificuldades enfrentadas pelo Brasil.
A decisão da Moody's é um alerta que não deve ser subestimado. Nosso entendimento é o de que é hora de enfrentar desafios que não podem mais ser adiados, adotando-se iniciativas capazes de produzir resultados no curto prazo, criando bases sólidas também para médio e longo prazos.
Pelo menos quatro desafios precisam ser superados para ampliar a produtividade e a competitividade da economia brasileira -a simplificação do nosso sistema tributário, a qualificação da educação e da nossa mão de obra; maior integração internacional e a adoção de políticas públicas de incentivo à inovação.
Por estes caminhos, com certeza é possível construir um país diferente daquele que a comunidade financeira internacional -e grande parte dos brasileiros- enxerga hoje.
Aécio Neves é senador e presidente nacional do PSDB. Foi governador de Minas Gerais entre 2003 e 2010. É formado em economia pela PUC-MG.
Fonte: Folha de S. Paulo
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