- Folha de S. Paulo
Não é novidade dizer que estamos vivendo, no Brasil, um momento excepcional. Crise econômica e crise política não são raridades nem aqui, nem noutros países, particularmente hoje, quando há conflitos e divergências de toda ordem. Não sei se isso se deve simplesmente aos problemas, mesmo, ou se é estimulado pelo caráter planetário do mundo atual, quando tudo é noticiado a cada momento, ocorra onde ocorrer.
De qualquer modo, se os problemas não existissem, não seria a simples notícia do que esteja acontecendo aqui ou ali suficiente para levar multidões às ruas e trabalhadores a greves.
Como se sabe, cada país é um país, com particularidades que o definem. Vivemos, sem dúvida, um momento excepcionalmente conflituoso, mas, em cada um deles, o conflito envolve causas e consequências diversas. É o caso do Brasil, que tem enfrentado, nos últimos anos, momentos difíceis. Mas, o momento atual, se é que estou certo, apresenta características muito específicas, sendo uma delas, conforme creio, a falência do poder político.
Isso é o que parece estar ocorrendo no Brasil, onde, das maneiras mais diversas, os cidadãos deixam claro seu total desapreço pelos políticos.
As manifestações massivas de 2013 demonstraram, de um lado, que não falavam em nome de nenhum partido político e, de outro, que não tinham reivindicações definidas. Era como se clamassem simplesmente: "Fora os políticos". Sem liderança e sem propostas, uma tal manifestação deixa claro que os que dela participam não confiam nem nas organizações políticas, nem nos seus integrantes.
Esse tipo de protesto cessou –como era de se esperar– mas, em seu lugar, multiplicaram-se outras formas de protesto, vinculadas estas a questões objetivas como reivindicações salariais e profissionais. Também nesses casos, nenhuma ligação com políticos e partidos se evidencia, mesmo porque os sindicatos ligados à CUT só se preocupam em apoiar o governo, desde que ele se mantenha fiel ao populismo lulista.
Esse é um aspecto do problema. O outro está na própria atuação dos políticos, tanto no plano do Executivo quanto no do Legislativo. Sem exagero, na percepção dos cidadãos, é como se esses órgãos do Estado brasileiro tivessem deixado de existir, tornando-se máquinas burocráticas inertes.
Claro, os deputados e senadores discutem projetos de lei, os aprovam, os encaminham ao Executivo que os sanciona ou não. Nós, simples cidadãos, não sabemos do que se trata.
Tudo do que sabemos é que a inflação consome nosso salário, que os hospitais e as escolas funcionam mal e que o desemprego cresce a cada dia, levando ao desespero milhões de famílias. Por outro lado, a presidente da República continua fazendo pronunciamentos que não resultam em nada. Promessas são feitas, medidas anunciadas mas, na realidade, nada acontece. É como se não houvesse governo.
Nas últimas semanas, Dilma decidiu comparecer à reabertura do Congresso e fazer um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão. No Congresso foi vaiada; o pronunciamento, abafado pelos panelaços.
Então, nos perguntamos: e a oposição, onde está que não se opõe ostensivamente a esse governo inoperante? Quase não se ouve falar dela. Por quê? Talvez seja que ela mesma, consciente do descrédito em que caíram os políticos, não se anime a falar alto.
Enquanto isso, a Operação Lava Jato revela, a cada dia, como o Estado brasileiro tem sido saqueado por políticos e empresários corruptos, com o beneplácito e mesmo a participação do governo, seu partido e seus aliados.
Isso sem falar no escândalo que significa estarem os presidente da Câmara e do Senado respondendo a processos por corrupção. Não é por acaso que uma pesquisa recente mostrou que 82% dos eleitores não confiam nos partidos.
Não há dúvida alguma: o Executivo e o Legislativo perderam a autoridade que a Constituição lhes outorga. Dos três poderes, o único que merece a confiança do povo –porque responde às suas expectativas e garante a sobrevivência do Estado brasileiro– é o Judiciário, que, aliás, assusta os outros dois.
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