Por Thiago Resende e Raphael Di Cunto – Valor Econômico
BRASÍLIA - Mesmo com divisões internas e pelo menos outros seis concorrentes no bloco de partidos que dá sustentação a sua candidatura, o líder do PSD, Rogério Rosso (DF), oficializou ontem que disputará à presidência da Câmara na eleição que ocorre amanhã para eleger o sucessor de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) - que, junto com o Centrão, apoia Rosso.
Ontem à noite, o DEM decidiu lançar a candidatura de Rodrigo Maia (RJ), que disputava internamente com José Carlos Aleluia (BA), que resistia em desistir da concorrência. A bancada avaliou que Maia já estava em campanha antes e, assim, costurou apoio em mais partidos. Ele é um dos principais adversários do Centrão.
Maia, porém, perdeu o apoio do PT no primeiro turno. Os petistas aprovaram resolução dizendo que procurarão "candidatos que votaram contra o golpe", em referência ao impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff.
O favorito dos petistas é Marcelo Castro (PMDB-PI), ex-ministro da Saúde de Dilma que votou contra o afastamento, mas tem dificuldade de unificar o PMDB em torno de sua candidatura - outros pemedebistas já manifestaram a intenção de concorrer, mas o partido deseja uma aliança com outro candidato da base, de preferência Rosso. Corre por fora Luiza Erundina (PSOL-SP).
A estratégia do Centrão é eleger Rosso para continuar dando as cartas na Câmara, mas, sem Cunha na liderança, o grupo hoje vive divisões internas que podem comprometer esse plano. O PR já desgrudou, convenceu Milton Monti (SP) a desistir de concorrer e consolidou o apoio do partido de 40 deputados em torno do segundo-vice-presidente da Câmara, Fernando Giacobo (PR-PR).
Giacobo, nos cálculos dos deputados, corre como terceira força na Casa, com cerca de 70 a 80 votos. O PR espera o voto de parte do PT, além de apoios pontuais no baixo clero, mesmo com Giacobo tendo votado a favor do impeachment - embora tivesse prometido, dias antes, fazer o contrário em troca de nomear um aliado para Itaipu. A troca é mais pragmática: se eleito, ele deixa o cargo na direção da Câmara e o PT fica com a vaga.
Há ainda outras divisões dentro do Centrão. O Solidariedade prometeu garantir pelo menos os 14 votos do partido para o deputado Carlos Manato (ES), corregedor da Casa. Daria seu apoio a Rosso no segundo turno. "Fica difícil negociar a retirada porque essa eleição é diferente, não tem os outros espaços para negociar", afirmou o presidente do partido, deputado Paulinho da Força (SP), que, "para unir a base" de Temer, sugeriu um acordo de rodízio com o PSDB.
Como o mandato é tampão, até fevereiro de 2017, os outros postos na direção da Casa já estão ocupados. O primeiro-secretário da Câmara, Beto Mansur (SP), é outro a concorrer dentro do Centrão. "Eu, como líder, não posso ir contra uma candidatura do meu partido", afirmou o líder do PTB, Márcio Marinho (BA) - que chegou a se oferecer como candidato do Centrão diante das negativas de Rosso de que seria candidato.
Rosso se lançou ontem com o slogan "Responsabilidade, Serenidade e Coerência" e oito propostas. A principal, que incorpora o lema de campanha de Cunha, é a autonomia do Legislativo. Mas o líder do PSD também atende aos críticos do ex-presidente da Câmara, dizendo que "aprimorará os horários de votações no plenário" e respeitará o trabalho das comissões.
PP, PTB e PTN, do Centrão, também têm candidatos. Mas parlamentares tentam convencer esses partidos a retirarem a candidatura para evitar uma pulverização de votos, dificultando eventual segundo turno contra a antiga oposição (DEM, PSDB, PPS e PSB).
O bloco de oposição ao PT ainda estuda que candidato lançar, mas está sacramentado o embate com o Centrão. O presidente interino Michel Temer jantou com o líder Antônio Imbassahy (BA) e com o presidente do partido, senador Aécio Neves (MG), e pediu unidade da base. Ouviu que o PSDB não terá candidato agora para ajudar com a união, mas que é difícil apoiar Rosso. "A manchete no dia seguinte será: mesmo afastado, Cunha elege sucessor na Câmara. E podemos ser responsabilizados por manobras que ele fizer para salvar o Cunha", explica um tucano.
Os nomes favoritos no grupo são Maia ou o candidato do PSB, que se reuniria na noite de ontem para tentar um acordo sobre Heráclito Fortes (PI) e Júlio Delgado (MG). Maia contava com o favoritismo por já articular apoios fora da oposição ao governo Dilma, inclusive do PT, mas a base do partido protestou.
PCdoB e PDT, contudo, ainda conversam com Maia. "Candidatura para marcar posição é a mesma lógica que levou o governo Dilma ao isolamento e ao impedimento", disse o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP). "O Marcelo [Castro] tem um perfil que agrada, mas não vemos com capacidade de aglutinar o suficiente para derrotar o Centrão. A oposição tem certeza de uma coisa: nosso candidato não será o Rosso", disse o líder do PCdoB, Daniel Almeida (BA).
Nenhum comentário:
Postar um comentário