Por Raymundo Costa | Valor Econômico
BRASÍLIA - Além da disputa por mais espaço entre as bancadas da Câmara e do Senado, o que está em jogo no PMDB é quem vai dar as cartas, no partido, nas eleições de 2018. Na próxima semana, o presidente Michel Temer deve conversar com o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros a de fim de aparar as arestas na relação, que voltou a ficar tensas depois de o senador afirmar que o deputado cassado Eduardo Cunha, mesmo da prisão, em Curitiba, pode capturar o governo.
A primeira reação de parlamentares ligados a Temer foi de espanto: Renan, duas vezes presidente do Senado, líder de bancada, trocando farpas com o deputado Carlos Marun (PMDB-MS), um integrante do baixo clero da Câmara. Uma briga desproporcional. Marun liderou um manifesto favorável ao afastamento do senador Romero Jucá da presidência do PMDB. Marun questiona a presença de investigados da Lava-Jato na direção do partido, mas é visto como o pombo correio do ex-deputado Eduardo Cunha.
Desde que deixou a presidência do Senado, Renan viu também o novo presidente, Eunício Oliveira (PMDB-CE), avançar sobre o espaço que antes ocupava na interlocução política com o Palácio do Planalto. O senador alagoano, por exemplo, não foi consultado sobre a escolha do deputado André Moura (PSC-SE) para a função de líder do governo no Congresso. O ministro que indicou para o governo, Marx Beltrão (Turismo), começa a dar demonstrações de independência e cogita disputar o Senado por Alagoas. Houve outras decisões sobre as quais Renan não foi consultado por Temer, um presidente que manter uma relação muito estreita com o Congresso e os parlamentares. Nas solenidades no Planalto, o presidentes da Câmara e do Senado ocupam lugar de honra, ao lado de Temer.
Se tiver sucesso, o que é improvável, a ofensiva de Marun para retirar Jucá da presidência diminuiria o espaço dos senadores, num momento em que o comando do PMDB, como em todas as outras legendas, será decisivo, por exemplo, para o financiamento das campanhas eleitorais de 2018. Com a expectativa de que não haverá recursos privados e que as doações individuais não serão suficientes, o dinheiro do fundo partidário será o objeto da disputa. Os partidos também dispõem da legenda e podem formar e dissolver comissões provisórias.
Isso tudo ganha importante quando o Supremo tribunal Federal (STF) abre as portas para a criminalização das doações oficiais de campanha, como ocorreu no caso do senador Valdir Raupp, que também já foi presidente interino do PMDB, a exemplo de Eliseu Padilha, atual chefe da Casa Civil, e Romero Jucá, líder do governo no Senado.
Há mais de 150 parlamentares citados nos depoimentos da Operação Lava-Jato, mas o caso Raupp causa insegurança em todo Congresso. Manter o foro especial nas eleições de 2018 passou a ser uma questão de sobrevivência para os congressistas. Para tanto, precisam se reeleger. Mais do que nunca o apoio financeiro partidário pode vir a ser decisivo. No caso do PMDB, é improvável que Jucá seja rifado, muito embora Temer venha privilegiando a Câmara, porque é a Casa onde primeiro será vota a reforma da Previdência. Ele e Renan se entenderam sobre a presidência do PMDB na época ainda do impeachment.
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