Seria descabido dizer que o abandono do Acordo de Paris pelos EUA pouco afeta o tratado. O país governado pelo republicano Donald Trump é o segundo maior poluidor do clima mundial, depois da China, e a defecção representa considerável retrocesso.
A economia chinesa ultrapassou a americana e emite hoje 20% dos gases do efeito estufa lançados a cada ano na atmosfera, agravando o aquecimento global. Os EUA respondem por 18%, seguidos por União Europeia (13%), Rússia (8%), Índia e Japão (4% cada).
O governo do democrata Barack Obama apoiava o Acordo de Paris e, como outros 194 países, fixou nele metas voluntárias para mitigar a mudança do clima: reduzir em 26% a 28% suas emissões em 2025, tomando por base o ano 2005, objetivo ora descartado por Trump.
O atual presidente anunciou ainda que não contribuirá mais para o Fundo Verde do Clima, que deveria carrear US$ 100 bilhões anuais de nações desenvolvidas para as mais pobres a fim de financiar o combate à mudança climática. Fornece, com isso, um pretexto para que outros também saltem fora.
O Acordo de Paris, admita-se, não é o mais vigoroso dos tratados. Prevê o objetivo comum de manter o aquecimento global (na comparação com a era pré-industrial) abaixo de 2°C, se possível 1,5°C, mas todos os signatários sabem que seria preciso tornar suas metas voluntárias mais ambiciosas ao longo do tempo —e monitorá-las.
Se um ator do peso dos Estados Unidos decide sair, os demais podem seguir o exemplo ou ser forçados a assumir compromissos ainda mais duros. Nesta última hipótese, a economia dos Estados Unidos obteria uma vantagem, na forma de energia mais barata, à custa de suas concorrentes estrangeiras.
Nem tudo se resume à economia e à competição internacional, porém. Ao abranger a questão do clima em sua aventura protecionista, o líder americano cede espaço geopolítico para a China, que antes de 2015 erguia os maiores obstáculos a um acordo sobre clima.
O governo chinês vem buscando afirmar-se como potência mundial confiável, e o combate ao aquecimento global lhe aparece como oportunidade rara para perfilar-se nesse novo papel.
Suas metas de corte de emissões não são das mais exigentes, mas o país já vem desestimulando o uso de carvão para gerar energia. Faz isso porque precisa reduzir a poluição do ar, que mata mais de 500 mil chineses a cada ano só com a queima de combustíveis fósseis.
Fazer a coisa certa, combater a poluição e ainda angariar prestígio internacional com isso —eis o prato feito que a decisão de Trump oferece de bandeja para a China.
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