Adrián Albala | Folha de S. Paulo
Desde 8 de maio deste ano, o mundo inteiro parece estar namorando um mesmo homem: Emmanuel Macron.
Seja pela sua juventude, aparência, história pessoal ou pela forma da sua ascensão política, o fato é que os franceses parecem ter criado a primeira "arma de sedução massiva". E, frente ao cenário politico atual, não há um dia sem que apareçam aqui vozes reclamando ou implorando a aparição do Macron Brasileiro.
Com este objetivo, nasceram várias propostas. Dentre estas, a iniciativa mais concreta consiste em incluir na pauta da reforma política a liberação das "listas cívicas", o fim da obrigatoriedade da filiação partidária para concorrer a cargos políticos.
O argumento central é bastante simples, e por isso mesmo precisa de certa cautela: partindo dos pressupostos de que os partidos "não prestam mais", que "só servem o seu interesse" e que "não representam o povo", alega-se que é preciso uma limpeza profunda do sistema.
Daí que essa limpeza só pode ser feita por alguém de "fora do sistema", alguém que não seja político, ou que ao menos não pertença a um partido político.
Especula-se, também, que um(a) politico(a) que não seja refém de uma ideologia ou de um grupo partidário particular teria as mãos livres para adotar medidas pragmáticas "nem de direita nem de esquerda", necessárias para o país sair da crise.
E se for rico, ainda melhor, dado que este(a) Macron Brasileiro, por não precisar, não cairia na tentação de roubar. Assim, não haveria mais corrupção no Brasil. Eureka!
De fato, já há candidatos se apresentando como "fora do sistema". No entanto, esse argumento tem mais de um atalho racional, e é uma deformação da realidade.
O próprio Macron não só não é antissistema, apesar de se proclamar como tal, mas ele é a própria encarnação do sistema. Banqueiro, conselheiro do presidente Hollande, ministro da Economia"¦ O seu currículo inteiro é uma ode ao "sistema".
Além disso, sua candidatura foi viabilizada e apoiada pela ala social-liberal do Partido Socialista e dos principais partidos do centrão francês.
Por fim, seu discurso de fazer uma "nova política" contrasta com a exigência de total disciplina que ele pediu aos seus deputados.
Sobretudo, é preciso lembrar que foi praticamente o mesmo mecanismo que levou ao poder Macron na França e Donald Trump nos EUA.
Apesar das divergências, Macron e Trump têm bastante em comum.
Se, para o caso brasileiro, um candidato racional (ou seja, não dogmático) seria bem-vindo, um candidato sem partido, em um Congresso com 35 siglas (mais 40 que aguardam criação) iria se tornar um presidente nu, sem possibilidade de governar.
Precisa-se, ao contrário, devolver visibilidade, identificação e sentido aos partidos. De que adianta ter 75 legendas se ninguém sabe quais as pautas defendidas pela maioria delas?
O excesso de oferta politica equivale à ausência de alternativas politicas claras. O centrão brasileiro tem muito pouco de centro e muito de personalismo. Esse personalismo torna bastante imprevisíveis as alianças e os rumos da política brasileira.
Assim, o Brasil não precisa procurar freneticamente seu Macron e muito menos seu Trump, mas sim oferecer previsibilidade em sua ação política. E não há nada de que os mercados e investidores gostem tanto como da previsibilidade.
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