- Folha de S. Paulo
Os economistas do governo e seus amigos no mercado teriam chiliques caso Michel Temer, ao tomar posse, tivesse criado impostos e planejasse estourar a meta de gastos a fim de aumentar o investimento público.
O governo, porém, acaba de aumentar impostos e estourar ainda mais as suas contas a fim de pagar o reajuste dos servidores federais, gracinha que concedeu em julho do ano passado.
Nesta terça (15), a equipe econômica anunciou um pacote desesperado a fim de corrigir a besteira e conter outras à espreita: a coalizão temeriana rasgou de vez a fantasia responsável depois da folia que manteve o presidente no poder.
A casta burocrática e o estamento empresarial com amigos e representantes no Congresso hastearam as bandeiras piratas e planejam saquear o Estado quase falido.
Parlamentares temerianos inventam gastos e rejeitam tanto aumentar impostos como votar remendos na Previdência. Planejam assim um colapso à moda do Rio de Janeiro, um modo de dizer apenas, pois o desastre teria outro feitio.
É conversa mole do governo dizer que estourou suas metas já extravagantes de deficit fiscal porque a inflação baixa reduziu a arrecadação prevista. Sim, a receita cai pelas tabelas, por vários motivos, IPCA baixo inclusive. Mas o governo:
a) gastou mais no que não devia, repita-se; b) por convicção fundamentalista e interesses da coalizão Patópolis, mal movera até agora uma palha a fim de aumentar a receita. Orgulha-se disso, aliás. Prefere pedir emprestado, a juro de 10%, conta a ser paga com o couro do povaréu, a aumentar imposto.
A despesa com servidores cresceu mais de 11% neste ano, já descontada a inflação. Neste século, é aumento inferior apenas ao de Lula em 2009. No ano, apenas o gasto extra com pessoal e encargos sociais federais deve ficar perto de R$ 30 bilhões. Pelo andar atual da carruagem, todo o dinheiro federal destinado a investimentos ("obras" etc.) não deve ser muito mais do que isso neste 2017.
No entanto, os economistas-padrão dos dias que correm, em especial aqueles no governo, consideram anátema elevar despesa de investimento a fim de dar um impulso para tirar o país do buraco recessivo. Dado o tamanho dos outros problemas, porém, a discussão é quase acadêmica.
As dívidas de campanha que Temer fez para se manter no poder custam até pouco em comparação com os efeitos do descaramento terminal da elite bucaneira.
Gente da coalizão temeriana jogou no lixo a medida provisória da "reoneração" (empresas voltariam a contribuir para a Previdência como o faziam antes dos favores de Dilma Rousseff).
Quer perdoar multas e juros de impostos atrasados (fazendo picadinho com farofa da MP do Refis com a qual o governo esperava arrecadar R$ 13 bilhões).
Juízes e procuradores querem aumento ou manter a farra dos penduricalhos que multiplicam seus salários. Etc. A reforma política dos fugitivos da política concentra-se justamente no "distritão" (policial?).
Isto posto, o que vai sobrar do pacote de agosto?
Vivemos em uma espécie de autocracia picareta, que faz a maior parte do país de refém, parlamentares e governo que procuram escapar da cadeia e distribuem o butim enquanto durar essa oportunidade curta de saque.
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