- Valor Econômico
Um projeto de emprego, é como se define o Centro
A nova Fundação Liberdade e Cidadania, antigo Instituto Tancredo Neves que conduz a formulação de doutrina e projeto político do DEM, começou a sistematizar, desde ontem, os pontos básicos de um manifesto que dará sustentação teórica à montagem do novo partido a resultar da incorporação, ao Democratas, de um grande grupo do PSB. São esperadas migrações isoladas também de outros partidos, mas a negociação com o PSB pode ser considerada quase uma fusão, pois trata-se de elevado número e importância das filiações.
Pelo desenho preliminar do ideário em discussão liderada por José Carlos Aleluia (BA), presidente da fundação, auxiliado por Mendonça Filho (PE) e os dissidentes do PSB Danilo Forte (CE) e Heráclito Fortes (PI), está claro que o DEM se afastará muito do PSDB, partido de quem foi aliado e vice na chapa presidencial de Fernando Henrique Cardoso.
Inclusive, o DEM vem ganhando espaço onde o PSDB vem perdendo: no mercado financeiro, empresariado e correntes liberais da academia e da classe média urbana.
As análises do grupo mostram parte do tucanato voltando a se aproximar da esquerda, por intermédio dos grupos paulista, liderado por Ricardo Tripoli, e pernambucano, na mão de Daniel Coelho. Eles se juntam também contra o modelo econômico que pressupõe reformas constitucionais que os jovens do partido não abraçam, preferindo puxar o PSDB, com apoio declarado de FHC, a uma configuração de esquerda com que se apresentava antes de partir para disputas presidenciais em aliança com a direita e o centro.
"Na verdade o PSDB é um partido do qual fomos aliados mas tem muitas pessoas lá que procuram ser de esquerda e nós não somos de esquerda. Esse ideário que estamos retomando agora, na verdade, foi uma coisa levada ao PSDB pelo Luís Eduardo Magalhães (filho de ACM, morto em 1998). Fernando Henrique Cardoso era um homem que vinha da esquerda, nós levamos para a aliança, quando éramos PFL, a ideia das reformas, e foi feito algo que agora se perdeu", afirma o deputado José Carlos Aleluia, que conduz os estudos para a nova definição do DEM que, provavelmente, mudará de nome para receber o PSB. Talvez Centro Democrático.
No manifesto em preparação ficam explícitos os princípios que indicarão o caminho ao DEM renovado: o projeto pretende fixar-se em um centro político. "O momento é de buscar o equilíbrio, sem radicalismos. Quando há crise, abre-se um espaço muito grande para o crescimento do populismo, tanto à direita quanto à esquerda. O Brasil está agora exatamente nessa encruzilhada, as pessoas começam a encontrar dificuldades financeiras e acham que a solução é a dos Estados Unidos, alguém de direita com o ideário econômico de esquerda, ou vice-versa", afirma Aleluia.
Aliás, os exemplos internacionais invadiram o imaginário dos partidos brasileiros. Em especial, um deles: todos querem ter um Emmanuel Macron, eleito presidente da França embora seu nome "não existisse" um ano antes. Além dele, o DEM busca também espelhar-se nos seus tradicionais associados da Espanha, mostrando como o populismo de José Luis Rodríguez Zapatero aprofundou o desemprego, deixou 6 milhões sem trabalho, e seu sucessor, Mariano Rajoy, os recolocou de forma galopante.
"Nós somos um projeto de emprego", disse, traçando as linhas gerais do que o centro político pretende: "Não dá para viver fazendo só compensações, nós vamos ter preocupação social, sim, mas o maior programa social que podemos fazer é geração de empregos;
Não se gera emprego se não tiver decisão firme de acabar com o déficit público, de reduzir os juros, de retomar a confiança". Quanto ao tamanho do Estado, princípio fundamental desse caminho, Aleluia explica que o novo DEM, com parte do PSB, quer um Estado forte, pois o fraco não tem condições de oferecer segurança, saúde e educação. Mas não um gigante que não consiga se mover.
"O Brasil não aguenta mais concessões a grupos, não aguenta mais gastança pública. Esse nosso projeto vai em busca de reformas, de retomada de emprego, de modernidade, de liberdade, de democracia".
Com a migração de boa parte do PSB e outras transferências que estão à espera da janela de mudança partidária que o presidente da fundação ainda não dá nomes, o Centro tem expectativa de ter uns 50 deputados. Hoje tem 31. Vai contar, também, com governadores, prefeitos e, por que não, o prefeito de São Paulo, João Doria, que vem conversando com o DEM e não desmentiu conversas com o centro democrático, aqui relatadas na semana passada.
Aleluia, no entanto, não quer falar de candidato a presidente da República e, especificamente, do prefeito de São Paulo, embora esteja claro que o novo DEM está se preparando mais para ter candidato próprio do que para fazer aliança. Com o PSDB, então, é preciso curar o trauma. Sentiu-se, o DEM, escorraçado pelo PSDB nas últimas disputas presidenciais. "Seria uma indelicadeza do Democratas ficar falando de Doria, ele é do PSDB, partido que é nosso aliado em vários Estados", diz, admitindo o despejo.
Mas serão apressadas as providências de organizar o partido com mais correntes vindas de outros, criar diretórios já com os novos membros e preparar as eleições.
E como não é o DEM o responsável pela cisão no PSB - "foi uma questão interna que não tenho condições de opinar" - um próximo passo nessa fusão terá que ser de iniciativa do partido de Eduardo Campos: o grupo que vai sair terá que assumir o novo projeto, o que ainda não fez oficialmente.
Mesmo que não tenha candidato próprio, o DEM terá outra força para jogar nas eleições de 2018.
"Se você tem um partido de 50 deputados passa a ser um player. Na última eleição presidencial, e isso deixou marcas, o PSDB nos expulsou da chapa. Nós não participamos da última derrota do PSDB, esnobados. Claro que vamos trabalhar para ter um projeto nosso. Sem nome no momento", assegura o presidente da fundação, mais uma vez recorrendo a Macron, esse modelo universal.
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